Armie Hammer / A Rede Social

A Rede Social ficou fora da briga por Efeitos Especiais no Oscar 2011, embora merecesse levar o prêmio! Entenda as razões!

por Fábio M. Barreto, de Los Angeles

Semana retrasada os votantes da Academia entregaram seus envelopes com o destino de muitos filmes, especialmente nas categorias técnicas. O pai de uma colega de classe é membro da elite dos Efeitos Especiais e contou uma história curiosa que me deixou estarrecido por vários aspectos; e, acredito, vá surpreender muita gente aqui! Gostei de A Rede Social (The Social Network, EUA, 2010) (leia crítica feita para o site Veja.com.br) e, como de costume, mantive minha análise ao filme em si, sem esmiuçar muito seus detalhes técnicos e, felizmente, faço parte de uma geração que foi treinada sem o IMDB. Normalmente faço isso quando chega o DVD [agora só Blu-Ray, aliás, não compro mais o formato anterior, caso exista a opção] e me perco nos documentários. Entretanto, a história desse sujeito me tirou do eixo por defender uma tese: A Rede Social deveria ganhar o Oscar de Efeitos Especiais, mas não foi nem indicado por quase ninguém saber que os efeitos estavam lá! Conversa de maluco? Pior que não!

Enquanto assistia à entrega do SAG Awards fiquei encucado com uma coisa. O elenco de A Rede Social foi ao palco apresentar seu filme. Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin Timberlake, Armie Hammer, que faz um dos gêmeos Winklevoss e… ué, por que o outro gêmeo não foi?, pensei. Bom, ele não foi simplesmente por não existir. Hammer foi replicado ao longo de todo o filme de forma imperceptível, simplesmente perfeita. David Fincher usou dois atores e, mais tarde, substituiu o rosto de um deles pela segunda interpretação de Hammer. Não estou descobrindo a América, mas não fui o único a ser enganado.

Os membros da Academia de Efeitos Especiais também foram. Muitos tiveram que ser avisados especificamente, afinal, nem todo mundo leu a matéria publicada no New York Post sobre o processo. E é aí que entra a informação de bastidores, afinal, é, no mínimo, curioso saber que muita gente teria votado em A Rede Social se o estúdio tivesse feito uma campanha específica exibindo seus feitos, em vez de deixar o filme trabalhar por si. É um paradoxo, claro, arriscar a imagem de um bom filme ao valorizar um detalhe técnico, mas, com certeza, sua sutileza merece mais louros que surtos visuais de, digamos, Homem de Ferro 2. São duas escolas diferentes, dois objetivos distintos.

A Rede Social é o tipo de filme no qual não se espera um banho de efeitos, afinal, teoricamente, ele nem precisaria usar esses recursos. Lembro de um caso recente do uso de gêmeos na aventura juvenil As Crônicas de Spiderwick, no qual Freddie Highmore foi duplicado de forma bem interessante por meio do uso de câmeras computadorizadas que recriavam a tomada anterior para que o garoto pudesse atuar duas vezes sem a necessidade de tela azul ou inserções forçadas. Isso ajudou a garantir o contraste, mas não surpreendeu pelo simples fato de duplicar um ator bem conhecido. David Fincher acertou em cheio ao utilizar um novato, assim, quem entrou para ser surpreendido pelo filme engoliu o truque sem pensar duas vezes!

Há cerca de 12 anos, participei de uma palestra no Itaú Cultural dada por um dos realizadores de Tron – Uma Odisséia Eletrônica. Entrevistei o sujeito para o Estadão e nunca me esqueci de uma resposta: a maior revolução dos efeitos não vai acontecer com um cara na motocicleta virtual, mas sim quando ele estiver numa moto de mentirinha e ninguém perceber! Estamos vivendo esse momento, no qual efeitos certeiros rompem as barreiras entre realidade e simulação e, efetivamente, é possível se filmar qualquer coisa, em qualquer lugar, com qualquer um sem prejudicar a experiência de se ver um bom filme.

Mesmo sem prêmio, A Rede Social entrou para meu rol de filmes fundamentais por conta desse aspecto [ok, já estava na lista antes, rs]. Definitivamente, uma grande realização.

E você, gostou do efeito? Percebeu o truque? Compartilhe sua impressão!

Fábio M. Barreto

Fábio M. Barreto novelista de ficção, roteirista e diretor de cinema e TV. Atuou como criador de conteúdo multimídia, mentor literário e é escritor premiado e com vários bestsellers na Amazon. Criador do podcast "Gente Que Escreve" e da plataforma EscrevaSuaHistoria.net.
Atualmente, vive em Brasília com a família.

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23 Comments

  1. UAU!
    Cai da cadeira agora… nem imaginava isso!
    Eu achava que eram gêmeos idênticos mesmo…

    SHOW!

  2. Mas aí “Duplo Impacto”, com Van Damme, também foi injustiçado no Oscar de Efeitos Visuais, ora pois! E “Gêmeos – Mórbida Semelhança”, de David Cronenberg?

    Abs!

  3. Ok, o efeito é legal mas não é inédito e nem surpreendente. Não acho que deveria ser indicado, não. Muito menos levar.

  4. Inacreditável!!!
    Sou daqueles que fica fuçando, tentando reparar nos efeitos durante os filmes, mas esse sinceramente me surpreeendeu. Até porque não li sobre o uso do efeito em nenhuma crítica anterior. Realmente impressionante!

  5. bem que eu me liguei que o 2o. gemeo era fake!
    há… eu devia ter apostado com as pessoas!

    =P

  6. Realmente “injusto”, mas obviamente esperado pelo Oscar way of life.

    Vc acaba de me surpreender com essa história dos gêmeos. Não me surpreendo com a qualidade final, já que é bom lembrar que Fincher é o mesmo diretor de Benjamim Button, de onde deve ter saído a tecnologia pra o resultado aperfeiçoado de hoje.

  7. Puts Barreto, que revelação incrível, até eu ler seu texto não tinha a menor noção que era um ator apenas, ficou impecável mesmo. Parabéns ao David Fincher pela decência de utilizar uma tecnologia de forma orgânica e totalmente imperceptível, já pensou, poderia ter rolado aquele jogo furéca de atores, tipo como foi feito com a Phoebe em Friends, alias, um horror aquilo.
    Abração

  8. Não assisti ainda o filme. Mas pode deixar que agora, já vou sabendo e poderei observar. Quero ver se é possível descobrir qual dos dois é o que foi aplicado o efeito. Acha que dá para perceber?

  9. Barretão velho!

    Eu fiquei sabendo pouco depois que vi o filme que os gêmeos eram um só… Mas não soube como eles tinham feito o truque. Achei que tinha sido um truque simples, mas eficiente, tipo aqueles da novela das gêmeas da Globo (vergonha tenho eu por isso haaha)

    Dae, vi o making off (aquele do IMDB) e pasmei quando descobri que não era só um ator que fazia, eram dois e que o outro tinha o rosto substituído.

    Quando terminei, formei a mesma opinião que gerou seu artigo. “Esse filme merecia ao menos uma indicação para o Oscar de efeitos.”…

    fazer o que né hahaha

  10. Sendo assim o Van Damme foi injustiçado 2 vezes. 1 – Duplo Impacto (1990 – olha o ano em que foi produzido) e Replicante (2001) que por sinal a interpretação do Van Damme foi impecável.

    1. Noooosa, Jefferson. Os efeitos do Vam Damme eram toscos, vai. É outro nível, mas, usando um elemento do texto, não funcionou em sua plenitude por conta de sabermos que só existe um JCVD. 😉

  11. Essa dos gêmeos quase todo mundo sabia, logo é quase impossível q os votantes não teriam sabido também.
    Na primeira fase são os próprios técnicos q votam, então eles sabiam dos efeitos, só q acharam q os 5 outros indicados (ou mais, já q TSN nem entrou na pré-lista) eram melhores.
    Que os efeitos do filme são ótimos ninguém duvida, mas daí pra falar q merecia vencer filmes como “A Origem”, q é um dos raros exemplares a usar tantos efeitos mecânicos, já é demais.

    1. Bom, Alessandro, quem diz que os técnicos não sabiam foi um deles. Apenas transmiti a informação e, se o cara falou, acredito ter razões para tal.

      Sobre o prêmio, depende do que você procura num filme. Há pontos fortes em cada um deles.

  12. Já vendo o filme, desconfiei, pois eram pessoas muito idênticas (mesmo gêmeos, notamos diferenças) , mas pesava o fato de nunca ter visto o ator antes e achei que tinham achado gêmeos fantásticamente idênticos. Comecei a prestar mais atenção para ver se via detlahes que entregassem a montagem, mas não consegui. Daí esperei pelos letreiros para confirmar que se tratava de uma só pessoa.

  13. Sinceramente, acho difícil as pessoas ligadas ao cinema NAO SABEREM de fato de que se tratava de um ator só. Isso é informação simples, de elenco… mesmo que o tal Hammer seja um desconhecido. O povão ainda vá lá, mas os especialistas, hmm… não sei não. Mas independente disso, nao vi nada de revolucionário que justificasse um Oscar de efeitos visuais. Isso de replicar um ator em 2 existe há séculos, como bem citaram aí nos comentários, e convenhamos, não é nem um pouco difícil de se fazer. Ainda mais com a tecnologia de hoje. Parece que está sendo proposto um prêmio mais pela falta de informação das pessoas em saber que era um ator só, do que pelo mérito do efeito em si!

  14. Cara!!! Eu gostei muito desse filme, só que eu nunca saberia que existia este efeito! Muito Bom mesmo!

  15. Fábio, como eles são técnicos, sabiam exatamente o q procuravam pois trabalham c/ isso, mas devo admitir q muitas vezes não engulo suas escolhas.

    É absurdo q os efeitos de “A Rede Social” não tenham entrado e os de “Hereafter” sim, q são fracos e só aparecem por poucos minutos, mas como eles são técnicos, logo eu q não devo entender…rs

    Eles sempre valorizam efeitos q abrangem quase o filme todo, como os tradicionais blockbusters, por isso minha surpresa com “Hereafter”.

  16. Durante o filme, eu não sabia disso e nem desconfiei. Achei que era uma simples trucagem para duplicar o cara, como já vimos em tantos filmes (e até em novela da globo rs).

    Portando, depois que assisti ao filme e fui fazer uma análise, entrei no imdb para pegar mais informações. Achei estranho quando fui no elenco e encontro isso:

    Armie Hammer … Cameron Winklevoss / Tyler Winklevoss
    Josh Pence … Tyler Winklevoss

    Isso ficou me encucando por vários minutos. Como assim um dos atores fez dois papéis e outro apenas um? Simplesmente não entrava na cabeça. Minha namorada até sugeriu que o tal Josh poderia ter sido o dublê, mas ainda assim, não fazia sentido ser dublê de apenas um. Depois de pesquisar um pouco mais afundo foi que descobri essa informação que você comentou no post. Realmente é um detalhe interessante que até vale a pena rever o filme apenas por ele.

    No entanto, acho que não chega a merecer a indicação ao oscar. Apesar do efeito ser perfeito (a ponto de enganar qualquer um), eu acho que vai contra a proposta da indicação. É como falar que em A Bruxa de Blair, uma das árvores ou uma das pedras do cenário era digital, mas ninguém notou porque foi uma cgi perfeita. Beleza, isso teria enganado todo mundo, mas valer uma indicação por isso? Aí eu já não sei.

    Eu acredito que muito do significado do prêmio de efeitos visuais vai de fazer algo fora do comum e não apenas imitar o cotidiano da vida real.

    Claro que é apenas uma opinão minha (e eu admito que forçei um pouco a barra com o exemplo hehe).

    Abraços

  17. Bá, não me mate, desde que começaram as aulas eu estou mega atrasado com os textos e também podcasts. Finalmente hoje consegui ler esse texto e fiquei bem surpreso de saber que o ator foi replicado de tal forma que eu jurava que eram gêmeos!

  18. Eu nem desconfiei, mas talvez a crítica pense que isso é comum, ou até mesmo dispensável, já que ele poderia ter contratado 2 gêmeos de verdade. Diferente de Tron que eles tentaram replicar a cara do Jeff Bridges quando mais jovem. Mas não deixa de interessante.

  19. Interessante e tal, mas a questão é que o que o cinema do Nolan faz de ainda usar mecanica e misturar com cg é digno de reconhecimento mesmo. Mas tambem fui enganado como você ahaha.

  20. Desmerecendo Homem de Ferro 2? Que feio… Um só um detalhe de HF2, entre tantos, são maiores que esse gêmeo fake, como o fato das armaduras que o Downey Jr e Cheadle serem vestidas até a cintura apenas. Quando as vemos na tela, as pernas são todas digitais. Outra coisa que todo mundo só percebeu quando viram os extras. Se colocarmos os outros efeitos na balança então…

    1. Não desmereci ninguém. Aliás, vi os efeitos de HF2 sendo feitos e vi a armadura. Belo trabalho. Mas já não vimos tudo aquilo no HF? Novidade precisa ser levada em conta. Gostar de uma coisa não necessariamente significa desmerecer ou não gostar de outra.

      abs,

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