Comic-Con 2: Rescaldo

Segundo dia do evento foi mais cansativo, mas marcou encontros memoráveis com Peter Jackson e Hayao Miyasaki. Como era meu último dia, trabalhei como nunca. E nasceu uma paixão: Onde Vivem os Monstros!

Assim como no dia anterior, a jornada do segundo dia de Comic-Con começou cedo. Consegui ligar o computador na madrugada, twittei alguma coisa às 4h22 e caminhei até a estação de metrô. Aquela sensação de abandono me assusta. Ninguém por perto. Quase nenhum som, só as luzes acesas e o televisor com mensagens genéricas sobre horários dos trens. Bizarro. Cheguei a tempo de pegar o Amtrak para San Diego e, sem encontrar nenhum colega, dessa vez, escolhi um banco bem reservado e capotei. Mais algumas horas de sono viriam a calhar. Melhor idéia do dia, pois precisaria – e muito – dessa energia pelo que me esperava.

Peguei o famoso bondinho da estação de trem até o Centro de Convenções, mas desci numa estação antes. Dei de cara com um blindado da MNU – empresa de segurança de Distrito 9 – que era devidamente guardada por dois soldados fortemente armados e equipados (veja o vídeo aqui). Muita gente parava para tirar foto ou para conversar com os caras. Cool! Meu primeiro compromisso começaria ao meio dia, com as coletivas de imprensa da Sony. No menu, Denzel Washington. Aproveitando a manhã livre, fui conferir a feira, visitar alguns estandes e comprar o “item do ano”.

Meu orçamento permite apenas uma aquisição por evento. Ano passado foi o action figure exclusivo de Star Wars. Um Clone Trooper genérico, mas fazer o que. Passei pelo carro do Besouro Verde [que é um verdadeira máquina de guerra!], estande de Star Wars – sempre bem visual e cheio de fantasiados – e curti saber que três linhas novas de action figures e brinquedos chegam ao Wal-Mart e ao K-Mart em agosto. Bonequinho do Coran Horn é obrigatório na coleção; vem acompanhado do Wristler, sua unidade R2. E tem mais: se não me engano, pela primeira vez, a nave do Wedge Antilles, mais unidade R2 e, claro, novo action figure do melhor piloto da saga! =D

Como a Força tem seus desígnios, parei no estande de Ralph McQuarrie para perguntar sobre uma coleção de artes conceituais de O Império Contra-Ataca. Tenho quase todas, mas o vendedor estava se desfazendo de unidades antes de eu descobrir a peça. Perdi 5 ilustrações, especialmente as mais legais, logo, tento a todo custo completar e enquadrar todas. Eles não tinham [“está esgotado, de vez em quando pinta alguém no e-Bay vendendo, mas é caro”, me disse o assistente de McQuarrie], mas tinham outra coisa interessante: a edição especial das ilustrações de SW de McQuarrie lançada na Celebration Japan. O que é esse livro? Eles retiraram todo o material da saga do livro da carreira do ilustrador, legendaram tudo em japonês, pediram uma introdução do Anthony Daniels e pronto. Japonesada pirou! Bem, hum, eu também. Especialmente pela existência de um livreto traduzindo tudo para o inglês. Fizeram só para a Comic-Con. Dava para resistir? Não! Comprei e agora tenho meu guia pessoal de referência do McQuarrie, com direito a autógrafo e tudo! Chique!

Assim acabou a verba para compras.

Ainda bem, porque assim passou a vontade de pagar US$ 40 para tirar uma foto e comprar um autógrafo com Edward James Olmos. ADAMA É FODA!!! Cumprimentei o cara, já tá de bom tamanho! Mas quarentinha tava caro. Por falar em Battlestar Galactica, o Comandante Tigh [Michael Hogan] cobrava dez a menos. James Calis, famoso Gaius “Jesus Cristo” Baltar, também montou barraquinha e cobrava US$ 35 no pacote completo. É aquela coisa, se tivesse ido até lá para passear, pode apostar que eu pagava nas três fotos/autógrafos/foto autografada. Ninguém dava bola pro Adam Baldwin [Firefly e O Patriota], que ficou do lado do Olmos.

Relógio marcava a hora de tentar me infiltrar no Hall H.

E deu certo. O organizador da entrada especial deixou cinco jornalistas entrarem sem fila. Fui um deles. Coisa do destino, mas enfim.

Conferi as seguintes prévias:
The Book of Eli – Denzel Washington dando muita porrada num mundo pós-apocalíptico com direito a Gary Oldman fazendo vilão com traumas de infância. A prévia foi mostrada em estilo de quadrinho animado. Nas cenas de filme, Denzel literalmente chutou o balde e ficou muito à vontade em combate. “Tá brincando que diria não à chance de trabalhar com Gary Oldman?”, disse o astro, quando alguém mandou a famosa pergunta ‘por que entrou no projeto?”.

A melhor notícia dali, porém, seria a revelação de Gary Oldman sobre o início das filmagens do próximo Batman. Todo mundo já leu isso no twitter, zilhões de sites e blabla, mas eu ouvi da boca dele! *modo empolgado on*. As filmagens começam em 2010. “Mas não digam que eu contei!”, brincou Oldman. Adoro esse cara, sem brincadeira. Drácula de Bram Stoker é fabuloso por causa dele, mas ele é aquele tipo de ator que transforma qualquer papel tosco em algo interessante. Falei com ele rapidinho no Scream Awards do ano passado e foi bastante simpático. Só reforçou meu conceito. Mila Kunis completava o painel. Gata como sempre, teve que ouvir aquele sujeito que se veste “a lá anos 70” – e leva seu personagem à Comic-Con todo ano – falar em russo com ela. Acho que chamou a moça para sair; foi divertido.

The Box – Muita gente falando em Donny Darko 2, mas isso não foi mencionado no painel de The Box, novo filme do diretor Richard Kelly (Donny Darko). A prévia é pesada, com direito a Frank Langella apavorante e Cameron Diaz fazendo uma bobagem gigantesca. James Marsden, que encontrei na cafeteria outro dia, também está no elenco. Gosto dele, Interstate 60 é um filmão pouco falado; e ele faz aniversário no mesmo dia que eu, hehe.

Curioso foi notar que esse filme lembrou minha infância. Certa vez, meu pai me contou a seguinte história:

– Um dia um homem chega na sua frente e te mostra um botão, e te diz: “se você apertar esse botão, você recebe US$ 1 milhão. Só que uma pessoa, que você não conhece, vai morrer.”
Fiquei pensando. Porra, é tentador! Tinha uns 12 anos, então disse: – eu aperto!
– Tudo bem, você aperta. Ele te deixa uma mala com o dinheiro e vai embora.
– Mas fiquei rico, então?
– Sim, mas no dia seguinte, ele volta e deixa um bilhete embaixo da sua porta: “amanhã, ou depois,alguém que você não conhece pode apertar o mesmo botão. Passar bem.”

Alucinante! Dei uma chacoalhada pesada na minha cabecinha adolescente. Nunca me esqueci. Esse é exatamente o roteiro de The Box – pelo menos do primeiro ato – que foi inspirado num conto de Richard Matheson. Agora, de onde diabos meu pai conhece Richard Matheson [Eu Sou A Lenda]? O veio não lê muito que eu sei, e também não leu na Playboy [onde o conto foi originalmente publicado], então fiquei de queixo caído.

Kelly levou isso um pouco além e transformou o ato de apertar o botão num problema maior, com repercussões mundiais. Altamente curioso e mental. Quero assistir The Box!

Intervalo pro segurança do Hall H quase me botar para fora por que eu tirei meu computador da mala. O índice de paranóia estava tão grande que, mesmo desligado, o laptop deveria ficar fechado. O sujeito quase tomou o aparelho. A briga seria feia, mas aí dei uns berros com o sujeito – que não queria esperar eu guardar de volta –, e ele relaxou. Stress, stress. Se ser jornalista já não vale nada nem no Brasil, que dirá aqui que qualquer blogueiro consegue credencial de Imprensa só para entrar na faixa? Mas tudo bem, o melhor estava por vir.

Onde Vivem os Monstros – Vou comprar o livro e vou ver o filme. Mesmo sendo da Warner. Quero nem saber. Spike Jonze já me agrada cinematograficamente há anos [Quero ser John Malkovich e Adaptação], mas nada poderia me preparar para a prévia de Onde Vivem os Monstros, inspirada na obra de Maurice Sendak. Não fazia idéia da existência dessa obra – seja livro ou filme. Fui pego de surpreso pela prévia. É belíssima.

Sou apaixonado por contos de fada, lendas antigas e mitos modernos, então mergulhar num universo tão simples e forte como aquele me deixou maluco. É cada vez mais necessário mostrar às pessoas que nem só de efeitos especiais caríssimos vive o cinema e a fantasia. Onde Vivem os Monstros usa pessoas com fantasias grandonas, rostos bonachões saídos de uma realidade alternativa da História Sem Fim [hehe] e aposta na simplicidade da mente de um garotinho [sangue ruim, até onde me disseram]. Muito melhor que seu trailer, a prévia desse filme funcionou perfeitamente comigo. Adorei.

Visual muito bom, trilha sonora de fazer chorar e, pelo jeito, uma daquelas jornadas transformadoras. Assim que ler o livro, publico a resenha.

Sinceramente, se vi mais alguma coisa, esqueci. Pois minha mente se recusa a pensar além de Onde Vivem os Monstros naquele momento do dia. =D

[duas horas mais tarde, durante a redação desse texto]
Ah, lembrei que depois veio o novo do Freddy Krueger, dos mesmos produtores do novo Sexta-Feira 13 e com Jackie Earl Haley, o Rorschach, de Watchmen. Ele falou uma coisa genial no painel: “eu fui a criança perseguida; agora, de certo modo, estou dando o troco”, quando um fã perguntou sobre as semelhanças entre seu personagem em Pecados Íntimos, Watchmen e em A Hora do Pesadelo. O impacto de Onde Vivem os Monstros foi grande, mas como esse filme TAMBÉM é da Warner, não liguei. Hehehe. Gostei do preview. Jackie é perfeito para isso. Quer saber, gosto da atuação dele até mesmo no Semi-Pro! =D

Vi isso e saí correndo para o andar de cima, onde as entrevistas acontecem. Cronograma mostrava coletiva de imprensa de The Book of Eli e, meia hora depois, mesas para Distrito 9, no Hard Rock Hotel. Chegando à sala de coletiva, fui informado de que Distrito 9 e The Book of Eli aconteceriam ao mesmo tempo, ou seja, era um ou outro. 0.2 milésimos de segundo depois. “Tchau, Keely! Falamos depois… “ voei para o hotel. Denzel Washington que me desculpe, mas uma coletiva com ele não chega nem perto de um tete a tete com Peter Jackson.

Os jornalistas internacionais malucos com Distrito 9, que teve um screening na noite anterior. Adoraram! Como vocês sabem, assisti ao filme no mês passado, na primeira exibição para jornalistas selecionados. Foi curioso ver o povo empolgado pelo lance social e a crítica ao racismo. Enfim, as entrevistas rolaram. Érico Borgo, do Omelete, estava na mesma sala. Não vejo problema. Gosto das perguntas do Érico e, prioritariamente, ele é site e eu sou revista mensal. Sem crise.

As entrevistas com Neill Blomkamp [diretor] e o Sharlto Copley [ator principal] foram ótimas. Cheias de conteúdo. Aí veio o homem, a lenda, o ex-gordão mais famoso do mundo nerd: Peter Jackson. O papo foi ilustrativo, muita coisa sobre Distrito 9, algumas de O Hobbit e, surpreendentemente, Avatar foi assunto [WETA está fazendo os efeitos especiais]. Ele é tranqüilo, concentrado e sabe exatamente o que responder. É aquela sensação passada quando existe certeza e conforto. Quem sabe, sabe! =D Parte dessa entrevista está na Sci-Fi News 138 [uma edição fabulosa, aliás! Melhor da história. E se eu estou elogiando, é verdade. Sou o maior crítico da SFN, justamente por trabalhar lá e luto por esse momento há anos] e o conteúdo completo sai no mês seguinte, com nossa cobertura exclusiva de Distrito 9.

E nada de descanso.

Dá-lhe correr de volta para a Comic-Con. Era hora de Disney. Hora de John Lasseter e Hayao Miyasaki, com o pelotão da animação. Diretores de A Princesa e o Sapo, Toy Story 3, o sujeito responsável pela adaptação de A Bela e a Fera para 3D entraram ao lado de John Lasseter e Hayao Miyasaki. Lasseter fez a “direção norte-americana” para Ponyo. Outro papo animado e informativo. Havia três jornalistas japoneses na mesa, achei que eles mandariam ver, mas ficaram quietos. Um deles, meu amigo, disse que “gostamos ver o que vocês pensam dos filmes do Miyasaki e entender a postura ocidental”. Olha, só! Nunca pensei nesse aspecto. Interessante.

Terminando essas conversas, mudei de sala para as entrevistas da Sony. Legion e Sorority Row [nem sabia que isso existia!]. Meu único interesse era Paul Bettany, que descarrega metralhadoras e porrada em Legion, no qual interpreta o Arcanjo Miguel. Ele descreveu o filme com tanta empolgação, que dá vontade de ver. Bem, anjos se pegando com armamento pesado já era razão suficiente. Hehe. No meio disso apareceu Tyrese Gibson, que resolveu virar ícone do mundo dos quadrinhos, estreou sua própria HQ: Mayhem! (Image Comics).

O cara está realmente decidido a fazer fama nos corredores da Comic-Con. Ganhei exemplar autografado! =D
Nesse momento meu dia começou a ficar tenso. Precisava pegar o trem das 5h50 para Los Angeles. Faltava 1 hora. Aí chega o diretor de Legion, Scott Stewart. Meu plano era entrevistar Bettany, Stewart e dar no pé. Mas inverteram minha mesa, Tyrese chegou no meio. Preciso do diretor, então corri o risco.

A entrevista acabou cerca de 25 minutos antes do horário. Precisaria correr. E não tinha idéia de quanto. Leva quase 10 minutos só para sair da área de entrevistas e chegar na rua. O trem seguinte demoraria 17 minutos. Ou seja, chegaria na estação depois da partida do trem. Esperar 3 horas não estava nos meus planos. San Diego é cheio dos pedicabs – taxis movido a pedal -, então tentei pegar um desses. Sabendo do poder de fogo dos participantes, o sujeito me cobrou US$ 20.00 (quase o preço da passagem de trem pra Los Angeles!). O lado mão de vaca falou mais alto.

Bom, era esperar ou correr. Corri. São quatro quarteirões grandes, sem contar o tanto que já havia corrido para sair da Comic-Con. Dei no pé. Esqueci de contabilizar duas coisas: joelho recentemente machucado e a mochila, que pesava certa de 25 quilos. Continuei correndo. Quem mandou engordar, né? Sofreae balôfo!

No meio do caminho veio a dor. Sem brincadeira, achei que fosse despencar. Considerei desencanar do trem, mas segui em frente. Estava doendo muuuuuuuito, mas consegui chegar à estação. Felizmente, o Amtrak ainda estava na plataforma. Um funcionário me viu e fez o trem esperar os dois minutos que ainda levei para entrar [como trens são longos, nossa!]. Quase todos os lugares cheios, nenhum com tomada disponível, não daria para escrever. Achei um lugar vazio, encostei meu corpo e me toquei: eu tinha fugido da Comic-Con, literalmente. =D

E assim acabou. Pelo menos para mim. Ano que vem tem mais! =D Agora é só aguardar pelas entrevistas.

Fábio M. Barreto

8 comentários em “Comic-Con 2: Rescaldo”

    1. Eu não tenho nada contra! =D Só existe a realidade de eu não cobrir filmes da Warner. Nunca sou convidado. O que é uma pena. =D

      E a política do SOS Hollywood é: “só cubro ou falo de filmes dos quais participei da divulgação ou que, pelo menos, fui convidado a assistir”. Eles não sentem falta, eu não dou meu espaço. =D Sem crise.

      abs! =D

  1. Mal posso esperar pra colocar os meus olhos em ‘Onde Vivem os Monstros’. O trailer é muiot bom, e a trilha teve colaboração da Karen O, sem mais.

    A Warner é meio maluca mesmo quanto a divulgação, é só reparar a dinâmica de divulgação de Harry Potter, mas sem crise mesmo, ótimos filmes.

  2. Nossa, que dia corrido, hein? Cara, deve ser uma loucuira a Comi-Con, todos essas pessoas e filmes juntos, em um único lugar.rs

    Bom, estou louco para ver Onde Vivem os Monstros, achei o trailer super demais, ainda mais com Wake Up, que já gostava antes de ver o trailer. Aliás, tive que vê-lo várias vezes seguidas, porque minha sobrinha estava aqui, e adorou! Sabe como é criança?!

    Outro que estou curioso é o novo Sexta-Feira 13. Quando criança tinha MUITO medo do Freddy Krueger… E adorava ver os filmes por isso! rs E legal, que as vezes, eles encontram os atoires perfeitos para os personagens, e acho que Jackie Earl Haley é um deles.

    Bom, é isso. Adorei ler está matéria Fábio! Muito legal!

    Abraço!

  3. Só agora li esse texto.
    Desculpe, mas estou aqui rindo, imaginando vc correndo pra pegar o trem :p
    Seu comentário sobre a “Várner ( a Warner rss), me lembrou a campanha lá do BJC :D.
    Ó, inveja total, vc lá no meio desse povo….
    Que loucuraaaaa 😀
    ( Vou escrever pouco que a tendinite tá brava)

Comentários encerrados.

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