Hit cinematográfico reinventa os filmes adolescentes com romantismo demais e sobrenatural de menos. Chega a hora de Crepúsculo e a saga da família Cullen nos confins dos Estados Unidos.
Os vampiros estão em alta no mercado americano. Num ano que já viu o retorno dos Garotos Perdidos às telas e marcou a estréia da fantástica série True Blood na HBO, o gênero fechou o ano com chave de ouro nas bilheterias de cinema com Crepúsculo, de Catherine Hardwicke. É romance adolescente assumido, com pitadas de sobrenatural e a certeza de longa vida nos cinemas para sorte de Robert Pattinson (Harry Potter e o Cálice de Fogo) e Kristen Stewart, que interpreta Bella.
O sucesso de Crepúsculo, livro de Sthephenie Meyer, foi determinante para sua adaptação cinematográfica e, de mesmo modo, garantiu a recepção alucinada a filme e atores em Los Angeles. A première oficial do filme foi presenciada por mais de 2000 fãs que, mesmo sem poder assistir ao filme, transformaram a porta do cinema num inferno por conta dos gritos, flashs ininterruptos e tentativas de agarrar os “novos astros”. Aí nasciam as crepúsculinas, as fanáticas por qualquer informação sobre esses atores e, claro, os personagens na tela. Pattinson sofreu o pior, ao ser agarrado por algumas vezes e ouvir pedidos de “me morda, por favor”. É fanatismo exacerbado. E tudo isso mesmo antes do filme estrear.
Claro que tamanho alvoroço só poderia ser traduzido como hit nas bilheterias, afinal, Crepúsculo tem tudo que o momento precisa: romance adolescente, mundo da geração IPod e, claro, vampiros bonitões prontos para arrebatar corações, e pescoços, das jovens espectadoras. Crepúsculo beira a idolatria nos Estados Unidos e, curiosamente, abrange muito mais que as adolescentes ensandecidas. A segunda maior fatia de espectadores é composta por crianças entre 10 e 12 anos, afinal, ao verem seus irmãos e irmãs mais velhas falando tanto sobre a história, os pequenos pegam gosto pela coisa.
Bom para Hollywood e, claro, para o habito de leitura, que é reforçado com esse tipo de fenômeno. Situação que, aliás, não era vista desde o surgimento de Harry Potter. Porém, Crepúsculo vai além de mera atualização de filmes de vampiros, o produto revitalizou os filmes adolescentes com suas fórmulas manjadas e dramas envolvendo “amigas para sempre” e “popularidade’. Crepúsculo foca na individualidade e no potencial da força de vontade de cada um de seus personagens, por conta disso, tanto os vampiros – em especial Edward (Pattinson) – quanto os humanos podem atravessar seus ritos de passagem e amadurecer ao longo do processo. Tudo isso sem ser óbvio, um ponto mais que positivo.
Claro que, retirados os elementos vampirescos, Crepúsculo seria apenas mais uma história de amor juvenil, uma espécie de Romeu e Julieta com desfecho feliz. São dois mundos em conflitos e dois jovens ensaiando os primeiros passos de uma vida eterna juntos, mas nem tudo são flores e o próprio trailer apresentava um inimigo e uma grande luta. O confronto é frustrante e resolve-se rapidamente sem grandes demonstrações de poder extremo dos seres da noite envolvidos. Talvez aí esteja o ponto fraco de Crepúsculo: sentimentalismo demais e sobrenatural de menos. No fim das contas, não conseguiu escapar de uma história sobre abstinência. E só.
A revelação de Edward como vampiro gera uma cena belíssima, com sua pele revestida em diamantes microscópicos e todo o deslumbramento causado em Bela. Os hábitos peculiares dos Cullen também geram boas situações, mas tudo é sempre ditado pelo aspecto social e familiar. Claro que ninguém esperava por vampiros com capa e sotaque a là Bela Lugosi, mas o aspecto fantástico ficou em segundo plano, o que poderia garantir mais impacto no público adulto e nos seguidores mais fiéis ao mundo dos vampiros.
Crepúsculo é bem-feito, cumpre sua função e entrega um belo romance, mas até quando o final feliz pode durar? Afinal, um deles ainda é mortal e o tempo é inexorável.
*texto publicado à época do lançamento de Crepúsculo nos cinemas, em 2008.