Governo Norte-Americano fecha as portas parcialmente em meio a briga política! Entenda!
Há 7 dias não se fala de outra coisa na política dos Estados Unidos: o fechamento governamental, ou shutdown. O conceito é simples: com o início do novo ano fiscal, antes da aprovação do novo orçamento, o Governo Americano precisa passar uma série de “apropriações monetárias” para pagar as contas das instituições federais. Isso acontece anualmente e, desta vez, não houve consenso entre Senado e Câmara a tempo de evitar a paralização parcial das atividades. Como resultado da inabilidade política, o Governo foi forçado a suspender mais de 800.000 funcionários, fechar instalações (entre elas todos os monumentos nacionais, a NASA e o Centro de Controle de Doenças, o CDC) e começar a engordar uma dívida de $300 milhões por DIA em salários, benefícios e contas atrasadas.
A Briga Política
A maior razão da paralização é a polarização extrema que afeta a política norte-americana. Republicanos, liderados por John Boehner, na câmara resolveram atrelar medidas que impediriam o funcionamento do Affordable Care Act, conhecido como ObamaCare, à lei que autorizaria essas apropriações. O objetivo era forçar o presidente Barack Obama a ceder para evitar o shutdown. Por outro lado, os Democratas, liderados por Harry Reid, não querem aceitar a tática do “ou faz do nosso jeito, ou a casa cai”. Assim começou um cabo de guerra no alto escalão. Ninguém cedeu. O Governo fechou.
Curiosamente, Republicanos controlam a Câmara e Democratas controlam o Senado. Ou seja, qualquer proposta enviada pela Câmara que tente derrubar o ObamaCare é barrada pelo Senado. Derrotados na última eleição presidencial, com a proposta de repudiar o novo sistema de saúde, os Republicanos apostam na força e no barulho dos membros do Tea Party para tentar reduzir o “tamanho do governo”. Por definição, Republicanos acreditam num governo menos participante e defendem a individualidade e a força do mercado, Democratas acreditam em um governo ativo e acreditam no balanço entre mercado e incentivos federais para assuntos como saúde, por exemplo.
A Soma de Todos os Medos
Há duas razões principais para a postura irredutível de Barack Obama: 1) ele não quer, e não vai, abrir mão da principal conquista de sua presidência. 2) se ele abrir mão agora, ele vai abrir precedente para que Republicanos barrem outras iniciativas futuras. É uma questão de demarcar território e tentar encerrar o constante bullying feito por Republicanos desde a eleição em 2008. Por que ele pensa assim? Em 10 dias o Congresso vai ter que votar no aumento do Debt Ceiling, que é o teto de gastos do país, ou seja, a habilidade dos Estados Unidos de pegar empréstimos, efetivar pagamentos e manter seus credores em dia. Essa é outra briga anual, mas, nesse momento, a mais assustadora. O fechamento parcial do Governo é desagradável e causa problemas, mas a perda de crédito internacional e os efeitos devastadores que a retirada do dinheiro norte-americano do mercado pode, e, sendo efetivado, vai afetar todo mundo.
Warren Buffet disse hoje que esse cenário é o equivalente econômico de uma “bomba atômica”. Tanto é que a CNN até iniciou uma Contagem Regressiva, constante, para as 200 e poucas horas restantes até a votação do Debt Ceiling.
As Perspectivas
Democratas estão forçando um voto pela “Clean Bill”, ou seja, uma lei pura e simplesmente dedicada a reabrir o governo, enquanto Republicanos querem passar leis menores, reabrindo pequenas parcelas, pouco a pouco, e mantendo a obrigatoriedade do adiamento do ObamaCare (que, inclusive, está em funcionamento desde o dia 1 de outubro no site healthcare.org).
Do ponto de vista de quem mora aqui, eis o grande problema disso tudo: a polarização política é tão grande, que já se fala em Guerra Civil dentro do Partido Republicano, cuja facção radical é liderada por Ted Cruz, políticos estão sendo chamados de terroristas, anarquistas e vários outros nomes legais. Isso só diz uma coisa, ninguém mais confia no Governo e o atual sistema apresenta falhas gritantes. Independente de quem tem razão, ninguém da mídia, ou das ruas, esconde o fato de que um dos maiores motivadores da oposição a Obama é racial. O fato de o presidente ter encerrado guerras e, habilmente, ter evitado o conflito na Síria (coisa da qual mais ninguém fala) enfurecem a extrema direita e prejudicam o país. Com todos os seus defeitos, o ObamaCare vai fornecer atendimento de saúde para mais de 30 milhões de pessoas das camadas sociais mais pobres. Na mentalidade Republicana é cada um por si e ajudar esses “aproveitadores” nunca fui uma de suas prioridades. Para os Democratas isso é questão de honra.
Steven Colbert explica bem a situação com esse “jogo” chamado “Not a Game”:
Ótimo texto, Barreto!!
Algo como o seu site nos dará uma ótima visão sobre o que acontece por aí e como pode nos afetar.
Texto simples, sem frescuras, para qualquer nível lê-lo facilmente!
Você já tem mais um visitante diário!
Parabéns!!
Sucesso!!
Olá!
Vai ser muito bom ter uma visão do que acontece nos EUA por alguém que mora no país.
E é tão estranho ver um governo parar porque as leis são obedecidas e não “malandramente contornadas”. Para os brasileiros isso é quase irreal, já que até dar um “jeitinho” de contornar a Constituição conseguimos, e sem o menor peso na consciência.
abraço
Tem horas que eu penso que americano é bicho tapado. Sério. Parece birra de criança…
E não sei direito como funciona a saúde nos EUA, mas eu sou a favor de uma saúde pública. Nosso SUS pode não ser a oitava maravilha do mundo, mas esse é um direito garantido na Constituição e que é graças a isso que milhões tem acesso ao serviço básico de saúde. E como profissional de saúde, eu falo a vc que o problema do Brasil na saúde pública, não é dinheiro. É gestão desse dinheiro, e o monstro que destrói o Brasil, a corrupção.
Mas por uma questão de simpatia e de ponto de vista mesmo, estou do lado de Obama e dos democratas.
Ah, parabéns pelo site! Adorei!
Adorei a referência ao grande Tom Clansy! =)
Salve, Barretão!
Finalmente um post claro sobre o problema… por aqui a gente só ouve falar mas não entende direito o que se passa… Inclusive, se você puder escrever um texto explicando o problema da Síria e como isso se resolveu, seria bom! Por aqui ouvimos muitas especulações, mas poucas respostas…
Valeu! E parabéns por mais esse trabalho de primeira!