Gente Que Escreve 009 – Coadjuvantes

Bem-vindos escritores, amantes da literatura e do entretenimento!

Este episódio do Gente Que Escreve é uma celebração a um dos elementos narrativos mais importantes, e mais ignorados, da literatura e do cinema: os Coadjuvantes. São grandes personagens que, em nossos corações e memórias, são verdadeiros gigantes, sempre salvam o herói e, mesmo que se sacrifiquem, alteram os rumos dos mundos nos quais vivem!

APRESENTAÇÃO

Fábio M. Barreto & Rob Gordon

EDIÇÃO

Fernando Barone

MÚSICA TEMA

Daniel Bellieny

LINKS RECOMENDADOS

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Championship Chronicles – Blog de Crônicas do Rob Gordon.
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SUGESTÕES, CR͍TICAS E DÚVIDAS

Envie e-mails com “Gente Que Escreve” na linha de Assunto para: fmbescritor@gmail.com

12 comentários em “Gente Que Escreve 009 – Coadjuvantes”

    1. Lá vai o texto… *se esconde*

      O sol, que naquele momento se punha, era a única coisa que servia como marcação da passagem do tempo. As baterias dos relógios há muito haviam acabado, e não havia como conseguir mais. Todo o vilarejo havia se tornado um ponto estéril no mapa, e nem mesmo as ervas daninhas haviam restado. Não havia nenhum vestígio de vida naquele pedaço da paisagem.

      Exceto pelo homem no sótão.

      Ele havia resistido bravamente a todo o caos que ocorrera no passado. Vira as pessoas correrem, desesperadas, depois presenciou a aniquilação de todo o gado que pastava livremente pelos gramados, e decidira ficar ali. Sua casa era fruto do suor de uma vida inteira, e ele não estava disposto a abandonar aquele último reflexo dos tempos sadios.

      Ele passara cada madrugada espiando pelas frestas das janelas trancadas com o que restou da mobília. Via a não-vida que assolava o vilarejo quando a lua surgia, suspirava e sentava-se num baú velho, no qual guardara os tesouros da família que já não existia mais, consumidos pela teimosia em querer sair do isolamento. Suspirava, mas não mais lamentava, não por isso.

      Lamentava por saber que, passado tanto tempo, as provisões que também havia reunido por toda a vida estavam finalmente acabando. Naquela noite, tudo o que restava era uma única garrafa d’água. Há dias não se alimentava, mas havia se acostumado com o racionamento e a fome não o incomodava. Porém, sabia que, sem água, não seria possível sobreviver. Também sabia que o poço nos fundos do quintal havia desabado.

      O homem tomou, então, uma decisão. Abriu o baú, colocou a garrafa ainda lacrada dentro dele, e fechou-o. Era o último tesouro que guardaria ali. Suspirou mais uma vez, e abriu a porta.

  1. Desafio da garrafa d’água e madrugada.

    Giuseppe se recostou confortavelmente na poltrona enquanto saboreava o charuto cubano. Ele se perdeu em seus pensamentos, os negócios da família iam bem agora que finalmente se livrara daquele empecilho, finalmente podia seguir com seus planos mais tranquilamente, afinal, não tinha mais ninguém que pudesse entregar seus segredos, o único problema agora era arranjar um novo matador, e dessa vez um que realmente fosse de confiança… e de preferência sem família.
    As luzes se apagaram. Giuseppe coçou os poucos fios de cabelo que lhe restavam enquanto levantava o pesado corpo da poltrona, mas antes que pudesse terminar a sofrida tarefa de ficar de pé a porta se abriu com um estrondo. Um cheiro forte de ranço e mofo invadiu suas narinas como uma rajada de vento furiosa lhe deixando com gosto de fígado podre na boca, o jantar pareceu querer voltar por onde veio mas ele se manteve firme, aquele carpete era caro demais para ser estragado assim. Uma figura se mantinha em pé como uma estátua na porta, forçando um pouco a vista ele notou um martelo que parecia molhado em uma mão e o que parecia uma perna na outra.
    A vidraça da grande janela se despedaçou com a invasão de um enorme abutre tão negro quanto as próprias sombras do aposento, ele voou e pousou na mesa de ébano no canto da sala. A luz da lua invadiu o recinto revelando o que as sombras escondiam. O martelo estava molhado com um vermelho carmesim fresco que pingava em lentas gotas espessas, a perna pertencia a seu amado filho e herdeiro da família, que formara um rastro vermelho pelo caminho que fora arrastado. Mas a visão mais horrenda vinha da grotesca face em decomposição do algoz de seu primogênito. Os olhos esbugalhados sem pálpebras lhe fitavam como um predador mirando a presa, os dentes quebrados (na falta da maior parte dos lábios) formavam um sorriso profano de júbilo. Ele largou a perna do garoto e caminhou a passos pesados em direção a seu alvo, a cada pisada furiosa os vermes que rastejavam em seu rosto devorando o tecido morto caíam e eram esmagados. Giuseppe puxou a pistola do paletó e esvaziou o pente enquanto rangia os dentes, mas não surtiu efeito, o bizarro homem continuou avançando como se nada tivesse acontecido.
    – Niiingueeeem mooorree duuuaass veeezeees… – Falou a criatura com uma voz sofrida.
    – Que-quem é-é v-vo-vo-você…
    – Nooo fuuundooo vooocêêê saaabeee… – Sempre que falava a abertura em sua garganta assoviava.
    Giuseppe ficou pálido como a própria lua.
    – Vi-Vito… impossível… v-você está…
    – Moooorrtoooo! – Disse torcendo a grotesca boca, rasgando pele e carne podre no processo.
    O martelo voou em direção a Giuseppe, o impacto na cabeça o fez enxergar pontos brancos e bambeou suas pernas, a gravidade fez o resto. No chão tateou trêmulo por qualquer coisa que retardasse aquela coisa, ele precisava de tempo, pelo menos tempo o suficiente até que seus capangas chegassem. As mãos alcançaram o frigobar, sem opção abriu, agarrou a primeira coisa que pôs as mãos e atirou, mas Vito segurou a garrafa d’água no ar.
    – Vito, e-eu se-sei que está c-com ra-raiva…
    – Raaaivaaa!?! Vooccêê nããão faaaz idééiiaa!
    – Po-podemos consertar i-isso!
    – Siiimm… eeeuuu poooosssooo…
    Vito abriu a boca de sua vítima com a mão pegajosa, pedaços de pele se soltavam e grudavam nos dentes e gengiva de Giuseppe, o gosto fez a macarronada subir, mas antes que jorrasse para fora Vito enfiou a garrafa d’água bem fundo na garganta do mafioso. Vômito e água se misturaram em um bizarro chafariz, Giuseppe engasgou, sufocou e se afogou, o vidro da cara garrafa se partiu e deslizou goela a baixo rasgando tudo pela frente. Giuseppe já não se debatia mais.
    O relógio badalou, 03:00Hrs da madrugada.
    – Queee poéééticooo… o meeesssmoo horááriioo queee mooorriii… – Disse olhando para o gorducho encolhido em posição fetal atrás do próprio cadáver.
    O abutre abriu as asas e voou em sua direção, por um instante parecia aumentar de tamanho, engolindo Giuseppe por completo com suas penas negras como um manto de sombras, em seguida rasgou a escuridão com suas garras afiadas, Vito adentrou o véu de sombras rasgado enquanto gargalhava emitindo um som gutural que saía mais pela fenda na garganta do que pela boca.
    As luzes voltaram. A mansão se deitou em silêncio mais uma vez.

  2. O Homem da Terceira Casa

    Toda noite é a mesma coisa. Tarde da noite um homem sai da Terceira Casa e não volta. No outro dia de manhã é outro homem, mas ao mesmo tempo é o mesmo.
    Faz algum tempo que comecei a notar algo estranho na terceira casa do nosso pequenino bairro. Ela era igual a todas as outras. Tinha dois andares, uma entrada para a garagem e um jardim. Nele havia uma piscina. Só que a Terceira Casa tinha tudo isso bem tratado sem nunca ter havido um jardineiro naquele lugar nem ninguém pra tratar a piscina. Ela tinha cores que não dão inveja a nenhuma Escola de Samba. Era verde, azul e preta. Na garagem dele sempre havia um carro.
    No primeiro dia em que percebi a estranheza, o carro era branco e o sujeito era negro e usava camiseta branca e calça jeans. Ele sempre saia pela madrugada. Eu ficava na minha cama esperando o sujeito voltar, porém ele não voltava.
    No outro dia, faltei ao trabalho para espreitar o dia todo se o homem saia da casa, mas ele não saia. E de madrugada ele saia novamente, dessa vez com um carro branco e com o cabelo azul e barba. Como pode um homem mudar de cabelo e a barba crescer tão rapidamente assim? Ele fechou a garagem e saiu com toda a velocidade possível.
    O terceiro dia foi pior. De novo, ele pegou um outro carro, dessa vez uma Ferrari vermelha (isso mesmo uma Ferrari) e saiu com toda a velocidade do mundo. Dessa vez ele estava com o cabelo rastafári e sem barba alguma. Só levantou mais suspeitas da minha parte. Tentei até ligar para a polícia, mas meu telefone não dava linha.
    Depois se passou algum tempo, o homem passou a não só trocar de barba e cabelo, ele também trocou de cor de pele, certo dia ele era branco, outro amarelo, depois negro, pardo e branco de novo. Tentava ligar para alguém para relatar uma atividade assim tão suspeita e não conseguia. O telefone sempre estava sem linha.
    Até um dia em que ele saiu e voltou pela primeira vez. A polícia vinha em seu encalço e ele conseguiu entrar na garagem e fechou a porta. A polícia fechou a área e ele se fechou em casa. Ouvi o som de tiros e mais tiros. Até o momento em que ele saiu da casa e disparou com uma metralhadora contra a polícia e ela devolveu. Cinco policiais morreram na operação. O bandido também morreu. A ambulância os levou e fiquei apavorado.
    Pela manhã engoli o medo, já não havia mais ninguém na casa e a polícia não deixou fechado o local, fui pra casa do sujeito ver o que havia por lá. Entrei na casa e notei algo que não entendi nada e quem ler isso vai achar que é loucura. A casa por dentro era um cubo bege enorme. Dentro havia várias mesas com diferentes tipos de armas, munições, kits de primeiros socorros, várias garrafas d’água e comida. E havia na minha frente algo que parecia um botão de START e outro CONTINUE. Apertei o botão CONTINUE. Quando fui puxado por uma força maior parecida com um aspirador de pó. Com uma arma na mão vi um mapa no lado direito e abaixo dos meus olhos. Acima havia uma seta e um objetivo: SALVE-SE!

  3. Um pouco atrasado, mas voltando antes tarde do que nunca pra trazer desta vez 3 parágrafos, mas antes sobre coadjuvantes, eu tenho um texto sobre um grupo de aventureiros, tentei não tornar nenhum o protagonista, mesmo que digam que um ou outro o são, tentei deixar o grupo como protagonista e os personagens mesmo como coadjuvantes, acho que falhei miseravelmente 🙂

    * – Antes de qualquer coisa mossa = sinal de batida, em lâminas podemos chamar de dentes por batidas.

    Bom, o texto:

    Hora de sair da casa, sei que a noite já vai longe neste momento, mas não estou nem ai pra isso, quero fazer mais algumas traquinagens ainda nesta linda e bela noite iluminada por aquela grande lua cheia e vermelha. Vou olhando ao redor, minhas ferramentas estão dispostas sobre a mesa, já limpas e enfileiradas uma ao lado da outra, eu as empacoto com cuidado, não quero estragar meus amores, qualquer mossa poderia estragar a minhas futuras obras de arte.
    Vou até o carro na rua, não quis deixá-lo na garagem, assim fica mais fácil de colocar tudo no banco de trás, lá dentro tudo é muito apertado e difícil. Dou uma boa olhada ao redor, ninguém por perto. É hora de deixar minha obra para trás, é hora de voltar a rodar pelas ruas na madrugada, encontrar o material para minha próxima obra.
    Não, como sempre preciso dar uma ultima olhada, volto para dentro da casa, ninguém está na rua a essa hora, ninguém para bisbilhotar o que está acontecendo. Abro a porta com cuidado, acendo a luz e me sento em uma cadeira junto a mesa. A garrafa d’água parada ao lado do copo, eu bebo um pouco mais enquanto aprecio aquele rosto pálido e inerte sobre o balcão ao lado. Os olhos arregalados, vidrados no nada. O busto está jogado sobre o sofá, tudo ao redor é vermelho e aberrante, o cheiro metálico do sangue enche minhas narinas e um sorriso nasce em meus lábios, sim está feito, já é hora de ir embora.

  4. Também atrasado, mas tirei da gaveta este texto sobre madrugada e garrafa d’água

    Até a lua se arruma uma vez por mês. Brilha cheia de garbo, usa cada estrela ao seu redor como se fossem bijuterias extravagantes. Ela quer atenção. Ao longo da noite, muda de cor como se estivesse escolhendo o vestido adequado, tons de amarelo entre pérola e dourado, entre cinza prateado e o tímido pálido branco. Espera com paciência pela admiração de seus pretendentes.
    Cássia saiu do salão um pouco mais cedo do que o esperado. Ficou entusiasmada. Checou o celular e viu que os grupos de conversas estavam muitos ativos. O tema que comandava a maioria deles era o casamento de uma amiga dela, que agora era filha de uma pessoa muito influente na cidade.
    Falavam em celebridade da Bahia, discutia-se o cardápio do jantar em línguas estrangeiras (o que é um amuse-bouche?), os uísques com certeza poderiam votar pela idade que possuíam. As colunas sociais da cidade, do Estado e algumas da capital Federal voltaram-se para aquele momento. Desde a lua-de-mel, Cássia não sai para dançar e hoje é a noite para se divertir, rever os amigos. Ela escolheu o vestido perfeito para a noite.
    A menor parte dos grupos de conversa estava apoiando o marido de Cássia, Hércules e seus amigos que estavam se preparando para mais um desafio: corrida de longas distâncias em outras cidades, outros países. Boa parte do tempo, os amigos falam sobre treino, provas, suplementação e lesão. Esta é a pior parte.
    Hercules começou a correr inspirado pela irmã. Impressionado com desempenho, o bicho da corrida logo o fisgou. Queria correr maratona.
    Começou certinho: nutricionista renomado em são Paulo; médico do esporte da seleção olímpica de natação; massagem duas vezes por semana; acupuntura após o longo e assessoria esportiva. Pronto agora era seguir a dieta, treinar que emagreceria os quarenta quilos necessários para correr as maratonas que tanto queria. Sim, ele era obeso.
    Em pouco tempo, Hercules começou a correr meia maratona. A princípio ficou empolgado. Recebeu os parabéns de todos os conhecidos. Só que não era o bastante, ele não queria terminar a prova. Queria correr rápido. Voltou com tudo para os treinos.
    Andava no trabalho com altivez. Com um pouco de atenção, quem o conhecia poderia perceber que ele estava usando roupas folgadas e que caminhava com altivez, que seu humor havia se tornado mais aprimorado e refinado.
    O delicado equilíbrio entre o esporte e o trabalho exige dedicação. Talvez a falta de lastro das corridas, talvez o estresse do trabalho, ou só descanso mesmo, Hércules lesionou o joelho. Repetidas vezes se tratou e lesionou. Seu sonho de correr rápido foi distanciando-se do agora. Ficando longe da realidade. De tornar-se real.
    Quando Cássia chegou em casa encontrou Hércules com assistindo uma comédia qualquer com grandes bolsas de gelo na perna. Ele ainda estava com a roupa do treino, suado no sofá. Haviam combinado uma logística para a festa: ele faria o longo na sexta à noite em vez do sábado pela manhã e a refeição livre da dieta dos dois seria durante o casamento. Uma sinergia entre a vida social, familiar e atlética estava planejada.
    Cássia coloca sua bolsa sobre o aparador, ignora as manhas de suor sobre o sofá, respira profundamente e olha nos olhos do marido e pergunta:
    – amor, como foi o treino?
    – foi uma merda! Era para correr 16k. Só corri 8. Senti a banda iliotibial. Resolvi parar. Foi logo bem na frente do shopping novo.
    – Falou com seu treinador?
    – falei. Mandou um monte de áudio. Dizendo para eu botar gelo, repensar minhas prioridades, suspender o treino por três dias.
    – Você tomou alguma coisa?
    – não. Vai mexer com meu metabolismo. Já tá difícil manter o peso. Não quero perder mais um prova e não quero viajar outra vez para aplaudir. Quero correr!
    Ela percebe a irritação dele e resolve checar as horas.
    – bem, vou me arrumar. Nós vamos sair em uma hora. Tudo bem?
    – ok! – volta sua atenção para o programa na TV.
    Para um homem, a combinação de terno, camisa, gravata e sapatos não leva mais que alguns minutos para ser escolhida. Quando a companheira auxilia, há um avanço estético nas listras e cores. Naquela noite, Hércules nem percebeu o que estava usando. Vestiu-se com as primeiras peças que pegou no guarda-roupa. Já Cássia arrumou o cabelo e a maquiagem no salão, mas foi elegante o suficiente para não roubar a atenção da noiva. Escolheu um vestido com a costura que agrada aos olhos e as mãos de seu marido desde a época que namoravam.
    Antes de sair de casa, fizeram algumas fotos. Selfies. Postaram nos grupos dos amigos. Todos falavam o quanto ela estava linda, casal lindo, mas algo era unanime: por que Hércules não sorria?
    Cássia então respondia que ele estava lesionado. Os parentes e amigos respondiam de novo? E não era o joelho? O quadril? Ela preferiu desligar o celular. Aquela era noite de amor e não de explicação.
    Chegaram atrasados na celebração da missa e tiveram que assistir a missa em pé. Hércules sentiu muita dor, mas não falou nada. Sabia que era importante para Cássia aquele momento. “Era só uma hora” pensava ele. Enquanto as pessoas iam para o ofertório ou comungar, ele aproveitava para sentar “um ou dois minutos de alívio”. Essa era a vantagem de ser vinte quilos mais ágeis.
    Acabando a missa, são os primeiros a sair. Querem ser os primeiros a chegarem ao buffet. No caminho há três tentações para Hércules, um Cassino – lugar onde o casal já se divertiu muito; um drive-tru de junk food, onde ele não deve ir e uma loja de conveniência, onde todas as guloseimas estão lá.
    Hercules precisava garantir que ficaria sentado durante o evento. Ao descer do carro, percebeu que mancava. Cássia mesmo de salto andava mais rápido do que ele. A festa fazia jus à fama prometida. Cássia encantava com cada detalhe das flores aos cristais escolhidos e Hercules sentou na primeira cadeira que encontrou disponível para convidados. Até que um dos cerimonialistas se aproximou e o direcionou a mesa em que o casal deveria ficar.
    O buffet estava liberado para se servir e os garçons serviam a bebida. Havia uísques, champanhes, cervejas, refrigerantes e água.
    Um garçom se aproximou da mesa e perguntou:
    – a senhora aceita uma dose? – ele oferecia uma dose de uísque de quinze anos
    Cássia adora uísque, aceitou assim que o garçom ofereceu. Com duas pedras de gelo e agua de coco. Como se bebe nesta cidade. Negou o energético.
    – e o doutor?
    – Não. – respondeu Hercules. – Tem vinho?
    – Não. Temos champanhes, cervejas, refrigerantes e água.
    – Por que você não toma cerveja? – Cássia pergunta confusa.
    – Porque é minha bebida favorita. Se eu começar a tomar, vou perder a medida.
    – mas combinamos que hoje era o dia livre da dieta. Dia da jaca e tal.
    – não vou beber cerveja e pronto.
    Outros convidados foram se aproximando da mesa. Cássia se vira e força um sorriso com um canto da boca. Ao longo da noite, vários convidados vêm e vão à mesa enquanto Cássia e Hercules ficam sentados. Quando perguntado por que não está dançando, ele responde: estou com dor.
    Cássia se levanta e apoia uma das mãos na mesa e com a outra faz uma concha no ouvido do esposo para que ele escute claramente o que ela vai dizer:
    – faz muito tempo que espero uma noite para dançar, para beber, para namorar, para se divertir. E quando eu tenho essa chance, você faz essa cara. Não quero aguentar isso. Você não quer tomar cerveja, não quer tomar remédio. Não quer tomar uísque.
    Com uma expressão de dor no rosto, se levanta e faz o mesmo gesto com a mão no ouvido dela.
    – você não tem noção da dor que eu tô sentido. Não gosto de uísque. No nosso casamento, tinha rum pro seu tio, suco sem açúcar para minha avó… – ela interrompe a fala dele com o indicador
    – aquele era o nosso casamento e você de cerveja.
    – acho melhor nós irmos embora.
    – acho melhor você engordar.
    Ele percebe que vai falar algo que vai se arrepender. Pega a chave do carro e sai mancando pelo salão. Lembrou-se da loja de conveniência próxima do buffet e dirigiu até lá. Quando estacionou o carro, viu o letreiro do drive-tru. Estava ali e era tão fácil: só dizer os números, pagar, estacionar e comer. Abriu a porta do carro e resolveu entrar na loja de conveniência mesmo.
    O barulho do sino era melódico para ele. Já ajudava a melhorar o humor. Cachorro-quente, cup noodles, salgado, cappuccino, fandangos o que seria sua companhia nesta madrugada?
    Enquanto espreitava a prateleira, escutou mais uma vez o barulho melódico da porta. Alguns segundos depois alguém toca no seu ombro:
    – Mito? – uma voz grossa chamava o seu apelido na escola. Era Cláudio um antigo professor de física. Hercules demorou a reconhecer, mas sabia que ele corria talvez por isso ele estivesse com roupas esportivas de naquele horário num posto de gasolina.
    – Professor, tudo bem?
    – tudo! Como você está?
    – Tô bem! Disse meio envergonhado.
    – soube que você casou.
    – sim. É verdade!
    – Cadê ela? Me apresente!
    – Hum. Sabe, tô com a perna machucada e vim aqui comprar analgésico.
    – como assim?
    – ela quer dançar!
    Mito foi até o caixa comprou uma cartela com quatro analgésicos e uma garrafa d’agua para voltar o mais rápido que podia para festa.

  5. Até a lua se arruma uma vez por mês.
    Brilha cheia de garbo, usa cada estrela ao seu redor como se fossem bijuterias extravagantes. Ela quer atenção. Ao longo da noite, muda de cor como se estivesse escolhendo o vestido adequado, tons de amarelo entre pérola e dourado, entre cinza prateado e o tímido pálido branco. Espera com paciência pela admiração de seus pretendentes.
    Cássia saiu do salão um pouco mais cedo do que o esperado. Ficou entusiasmada. Checou o celular e viu que os grupos de conversas estavam muitos ativos. O tema que comandava a maioria deles era o casamento de uma amiga dela, que agora era filha de uma pessoa muito influente na cidade.
    Falavam em celebridade da Bahia, discutia-se o cardápio do jantar em línguas estrangeiras (o que é um amuse-bouche?), os uísques com certeza poderiam votar pela idade que possuíam. As colunas sociais da cidade, do Estado e algumas da capital Federal voltaram-se para aquele momento. Desde a lua-de-mel, Cássia não sai para dançar e hoje é a noite para se divertir, rever os amigos. Ela escolheu o vestido perfeito para a noite.
    A menor parte dos grupos de conversa estava apoiando o marido de Cássia, Hércules e seus amigos que estavam se preparando para mais um desafio: corrida de longas distâncias em outras cidades, outros países. Boa parte do tempo, os amigos falam sobre treino, provas, suplementação e lesão. Esta é a pior parte.
    Hercules começou a correr inspirado pela irmã. Impressionado com desempenho, o bicho da corrida logo o fisgou. Queria correr maratona.
    Começou certinho: nutricionista renomado em são Paulo; médico do esporte da seleção olímpica de natação; massagem duas vezes por semana; acupuntura após o longo e assessoria esportiva. Pronto agora era seguir a dieta, treinar que emagreceria os quarenta quilos necessários para correr as maratonas que tanto queria. Sim, ele era obeso.
    Em pouco tempo, Hercules começou a correr meia maratona. A princípio ficou empolgado. Recebeu os parabéns de todos os conhecidos. Só que não era o bastante, ele não queria terminar a prova. Queria correr rápido. Voltou com tudo para os treinos.
    Andava no trabalho com altivez. Com um pouco de atenção, quem o conhecia poderia perceber que ele estava usando roupas folgadas e que caminhava com altivez, que seu humor havia se tornado mais aprimorado e refinado.
    O delicado equilíbrio entre o esporte e o trabalho exige dedicação. Talvez a falta de lastro das corridas, talvez o estresse do trabalho, ou só descanso mesmo, Hércules lesionou o joelho. Repetidas vezes se tratou e lesionou. Seu sonho de correr rápido foi distanciando-se do agora. Ficando longe da realidade. De tornar-se real.
    Quando Cássia chegou em casa encontrou Hércules com assistindo uma comédia qualquer com grandes bolsas de gelo na perna. Ele ainda estava com a roupa do treino, suado no sofá. Haviam combinado uma logística para a festa: ele faria o longo na sexta à noite em vez do sábado pela manhã e a refeição livre da dieta dos dois seria durante o casamento. Uma sinergia entre a vida social, familiar e atlética estava planejada.
    Cássia coloca sua bolsa sobre o aparador, ignora as manhas de suor sobre o sofá, respira profundamente e olha nos olhos do marido e pergunta:
    – amor, como foi o treino?
    – foi uma merda! Era para correr 16k. Só corri 8. Senti a banda iliotibial. Resolvi parar. Foi logo bem na frente do shopping novo.
    – Falou com seu treinador?
    – falei. Mandou um monte de áudio. Dizendo para eu botar gelo, repensar minhas prioridades, suspender o treino por três dias.
    – Você tomou alguma coisa?
    – não. Vai mexer com meu metabolismo. Já tá difícil manter o peso. Não quero perder mais um prova e não quero viajar outra vez para aplaudir. Quero correr!
    Ela percebe a irritação dele e resolve checar as horas.
    – bem, vou me arrumar. Nós vamos sair em uma hora. Tudo bem?
    – ok! – volta sua atenção para o programa na TV.
    Para um homem, a combinação de terno, camisa, gravata e sapatos não leva mais que alguns minutos para ser escolhida. Quando a companheira auxilia, há um avanço estético nas listras e cores. Naquela noite, Hércules nem percebeu o que estava usando. Vestiu-se com as primeiras peças que pegou no guarda-roupa. Já Cássia arrumou o cabelo e a maquiagem no salão, mas foi elegante o suficiente para não roubar a atenção da noiva. Escolheu um vestido com a costura que agrada aos olhos e as mãos de seu marido desde a época que namoravam.
    Antes de sair de casa, fizeram algumas fotos. Selfies. Postaram nos grupos dos amigos. Todos falavam o quanto ela estava linda, casal lindo, mas algo era unanime: por que Hércules não sorria?
    Cássia então respondia que ele estava lesionado. Os parentes e amigos respondiam de novo? E não era o joelho? O quadril? Ela preferiu desligar o celular. Aquela era noite de amor e não de explicação.
    Chegaram atrasados na celebração da missa e tiveram que assistir a missa em pé. Hércules sentiu muita dor, mas não falou nada. Sabia que era importante para Cássia aquele momento. “Era só uma hora” pensava ele. Enquanto as pessoas iam para o ofertório ou comungar, ele aproveitava para sentar “um ou dois minutos de alívio”. Essa era a vantagem de ser vinte quilos mais ágeis.
    Acabando a missa, são os primeiros a sair. Querem ser os primeiros a chegarem ao buffet. No caminho há três tentações para Hércules, um Cassino – lugar onde o casal já se divertiu muito; um drive-tru de junk food, onde ele não deve ir e uma loja de conveniência, onde todas as guloseimas estão lá.
    Hercules precisava garantir que ficaria sentado durante o evento. Ao descer do carro, percebeu que mancava. Cássia mesmo de salto andava mais rápido do que ele. A festa fazia jus à fama prometida. Cássia encantava com cada detalhe das flores aos cristais escolhidos e Hercules sentou na primeira cadeira que encontrou disponível para convidados. Até que um dos cerimonialistas se aproximou e o direcionou a mesa em que o casal deveria ficar.
    O buffet estava liberado para se servir e os garçons serviam a bebida. Havia uísques, champanhes, cervejas, refrigerantes e água.
    Um garçom se aproximou da mesa e perguntou:
    – a senhora aceita uma dose? – ele oferecia uma dose de uísque de quinze anos
    Cássia adora uísque, aceitou assim que o garçom ofereceu. Com duas pedras de gelo e agua de coco. Como se bebe nesta cidade. Negou o energético.
    – e o doutor?
    – Não. – respondeu Hercules. – Tem vinho?
    – Não. Temos champanhes, cervejas, refrigerantes e água.
    – Por que você não toma cerveja? – Cássia pergunta confusa.
    – Porque é minha bebida favorita. Se eu começar a tomar, vou perder a medida.
    – mas combinamos que hoje era o dia livre da dieta. Dia da jaca e tal.
    – não vou beber cerveja e pronto.
    Outros convidados foram se aproximando da mesa. Cássia se vira e força um sorriso com um canto da boca. Ao longo da noite, vários convidados vêm e vão à mesa enquanto Cássia e Hercules ficam sentados. Quando perguntado por que não está dançando, ele responde: estou com dor.
    Cássia se levanta e apoia uma das mãos na mesa e com a outra faz uma concha no ouvido do esposo para que ele escute claramente o que ela vai dizer:
    – faz muito tempo que espero uma noite para dançar, para beber, para namorar, para se divertir. E quando eu tenho essa chance, você faz essa cara. Não quero aguentar isso. Você não quer tomar cerveja, não quer tomar remédio. Não quer tomar uísque.
    Com uma expressão de dor no rosto, se levanta e faz o mesmo gesto com a mão no ouvido dela.
    – você não tem noção da dor que eu tô sentido. Não gosto de uísque. No nosso casamento, tinha rum pro seu tio, suco sem açúcar para minha avó… – ela interrompe a fala dele com o indicador
    – aquele era o nosso casamento e você de cerveja.
    – acho melhor nós irmos embora.
    – acho melhor você engordar.
    Ele percebe que vai falar algo que vai se arrepender. Pega a chave do carro e sai mancando pelo salão. Lembrou-se da loja de conveniência próxima do buffet e dirigiu até lá. Quando estacionou o carro, viu o letreiro do drive-tru. Estava ali e era tão fácil: só dizer os números, pagar, estacionar e comer. Abriu a porta do carro e resolveu entrar na loja de conveniência mesmo.
    O barulho do sino era melódico para ele. Já ajudava a melhorar o humor. Cachorro-quente, cup noodles, salgado, cappuccino, fandangos o que seria sua companhia nesta madrugada?
    Enquanto espreitava a prateleira, escutou mais uma vez o barulho melódico da porta. Alguns segundos depois alguém toca no seu ombro:
    – Mito? – uma voz grossa chamava o seu apelido na escola. Era Cláudio um antigo professor de física. Hercules demorou a reconhecer, mas sabia que ele corria talvez por isso ele estivesse com roupas esportivas de naquele horário num posto de gasolina.
    – Professor, tudo bem?
    – tudo! Como você está?
    – Tô bem! Disse meio envergonhado.
    – soube que você casou.
    – sim. É verdade!
    – Cadê ela? Me apresente!
    – Hum. Sabe, tô com a perna machucada e vim aqui comprar analgésico.
    – como assim?
    – ela quer dançar!
    Mito foi até o caixa comprou uma cartela com quatro analgésicos e uma garrafa d’agua para voltar o mais rápido que podia para festa.

  6. Desafio: garrafa d’água, madrugada

    Rota de Fuga

    Era mais uma noite como todas as outras. Após sacolejar em dois ônibus lotados e caminhar por quinze minutos da parada até sua casa, colocava os pés no portão e já podia ouvir os gritos dos meninos. Pensava em dar meia volta e desaparecer, se virar e ir para o lado oposto, mas iria para onde já que não tinha nenhum conhecido na nova cidade? Olhava para o céu, hoje estrelado, em busca de alguma resposta; como ela não vinha, suspirava para enfrentar com certo fôlego a vida que lhe esperava detrás da porta. Colocava a “bolsa Louis Vuitton comprada por uma pechincha no Brás”, em cima da mesa, espiava a bagunça que se tornara parte da casa, fingia que não via o traste deitado no sofá, amarrava os cabelos opacos e preparara o jantar.
    – Manhê, tô com fome!
    – Eu tamém – concordava o caçula.
    – Vão brincar um tiquinho que a comida já fica pronta.
    Resmungavam um pouco, insistiam por um segundo, mas vendo que isso não traria a comida mais depressa, voltavam correndo para o quarto com suas barrigas vazias enquanto se estapeavam.
    – Ernesto, dá um jeito nesses moleques. Tão sempre brigando.
    – Agora não posso. – riu de alguma coisa sem graça na Tv. – Traz uma cerveja pra mim.
    Tinha vontade de responder “agora não posso”, mas sempre acabava cedendo. Achava melhor não contrariar o marido para não deixá-lo nervoso. Só Deus sabia o que Kelly passava quando Ernesto saía de si. Além disso, no fim das brigas, ela sempre chegava à conclusão de que a culpada de tudo era ela.
    Portanto, preferia permanecer calada no meio de toda a gritaria vinda do quarto, da sala, da Tv, de sua cabeça e, após lhe entregar a lata de cerveja, concentrava-se em cortar as cebolas enquanto chorava disfarçadamente; lágrimas que poderiam encher uma garrafa d’água, não das pequenas, mas daquelas de dois litros, quem sabe até de cinco.
    Ninguém a notava. “Acho que não sou notável”, pensava. E, invisível que era, terminava de fazer a comida colocando os pratos das crianças na mesa e, o do traste, entregava-lhe em mãos, no sofá. Era ali que ele sempre comia, a comida e, às vezes, ela. Não hoje, já que menos de uma hora depois da janta, ele roncava na sala enquanto os meninos, nas suas respectivas camas.
    Para ela, a noite apenas começava. Enquanto lavava a louça e limpava o fogão, cogitava todas as maneiras de partir; essa ideia vivia fresca em sua cabeça. Depois, levava o lixo para fora e observava as ruas nuas que pareciam lhe chamar, o que só aumentava seu desejo de fugir. Assim, ia madrugada a dentro lavando e passando roupa, limpando a casa, fazendo planos e rotas de fuga. Se ia mesmo embora que pelo menos a casa estivesse limpa, não daria motivos para que alguém pudesse falar mal dela, não levaria consigo mais essa culpa.
    A madrugada era toda dela. Não à toa, havia se tornado o seu momento preferido do dia. Era quando podia ficar sozinha, sem nenhum barulho ou contratempo. Eram só ela e o silêncio. Nesta madrugada, terminou tudo lá pelas duas horas e não teve ânimo de tomar banho; apenas lavou o rosto, encheu uma garrafa d’água, desta vez com água, se rastejou até a cama, jogando-se nela como uma mulher apaixonada que se lança aos braços do amado, quicou duas vezes e, com a cabeça apoiada na cabeceira, passou a engolir uma por uma, sem pressa, as vinte pílulas do tarja preta que o médico a receitara.

  7. Desafio: a garrafa d’água e a madrugada.

    Mudança de hábitos

    Todo começo de ano é sempre a mesma coisa. As resoluções de ano novo: emagrecer, arrumar o quarto, me tornar um ser humano melhor… 2017 tinha tudo para cumprir com o ritual e ser só mais um ano de promessas, aliás, eu estava pensando nisso antes de dormir, resolvo virar para o lado para me ajeitar e o celular vibra. Era o namorado desejando boa noite e me enviando uma foto do aniversário da sobrinha dele. Uma foto minha. Gente do céu! Aquela madrugada e aquela fotografia me mudaram. Fiquei mais bege do que já sou. Depois das festas de fim de ano e do tanto que eu comi, ver que em novembro eu já estava tão mais gorda do que eu imaginava estar. Até ai? Até ai que eu não sei lidar com essa ditadura da magreza. Até ai que eu vejo que a gordofobia é uma merda, mas ainda não consigo me sentir bem com aqueles cabalísticos 13 quilos a mais. Podia ser 12, podia ser 14, mas a balança não colabora. Adicione a esse cenário a proximidade dos 30 que me atingia em cheio, os pés inchados, as dores nas pernas, a enxaqueca e a preguiça de marcar médico.
    Que pessoa beira os 30 anos sem nunca sequer ter cumprido uma resolução de ano novo?
    Criei estratégias, metas e resolvi que 2017 seria diferente. Comecei uma dieta com forte restrição de carboidratos, leia-se: horas no mercado olhando a tabela nutricional dos produtos. Essa não sou eu! Tentei cozinhar, li “A mágica da arrumação” da Marie Kondo, desapeguei de 28 peças de roupa, entre livros e apostilas dava uns 20, eu acho. Gastei 3 preciosos dias das minhas férias nisso. Pintei o cabelo de roxo, perdi quase 5 quilos em 15 dias e agora a garrafa d’àgua é minha parceira para a meta dos 2 litros por dia.
    O mais difícil de tudo foi olhar nos olhos da moça da sorveteria, que fui com as minhas amigas, e pesar os meus 0, 54 centavos de amendoim triturado…

    https://socosesopapos.wordpress.com/2017/02/05/mudanca-de-habitos/

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