NatGeo lança hoje seu projeto mais ambicioso com Grandes Migrações, evento televisivo mundial que acompanha as rotas migratórias de inúmeras espécies, por todos os continentes e com uma trilha sonora brilhante.
por Fábio M. Barreto, de Los Angeles
O ser humano abandonou há muito suas origens nomades e, exceto em momentos pontuais em sua evolução, tem exercido a função de observador no fluxo de vida que continua movendo o planeta, de forma ininterrupta e ciclica, conforme as estações mudam, as chuvas chegam e a vida animal da Terra segue seu ritmo. Coube aos observadores profissionais da National Geografic registrar esse processo e mostrar umas das vocações óbvias, mas pouco exploradas, das câmeras de alta definição. Nunca foi tão impressionante ter contato com a natureza como em Grandes Migrações, documentário dividido em sete partes, que o NatGeo estréia mundialmente hoje. Além do deslumbre causado pela proximidade garantida pelo HD, a narração original de Alec Baldwin é marcante e encontra apoio ímpar com a trilha sonora composta de forma brilhante e precisa por Anton Sanko, que assina a trilha de Amor Imenso, da HBO.
Know how não falta à NatGeo, mas há algo especial em Grandes Migrações. Há um senso de grandiosidade até mesmo nas cenas mais ínfimas e detalhistas. Esse detalhamento difere, e muito, da lupa proposta por Microcosmos. Nada de pausa ou análise minuciosa, pois, pela proposta do programa, tudo sempre está em movimento. Nada de descanso, nada de câmera lenta. Tudo é registrado com uma velocidade só, a da natureza, seja nas grandes savanas africanas ou no início minúsculo de uma gigantesca procissão de carangueijos vermelhos, que nascem no mar e, logo de cara, precisam escalar uma gigantesca parede de rocha e retraçar o caminho perigoso que seus pais percorreram semanas antes.
Uma das escolhas mais acertadas da NatGeo foi não se limitar a um tipo de estilo ou técnica. As equipes visitaram 20 países e acompanharam diversas espécies, em diferentes habitats, mas todas num momento singular: migração. Logo, é possível acompanhar a longa jornada de ida e volta de quatro gerações de Borboletas Monarca, do México para o Canadá; passando pelas rotas provocadas pelas chuvas na África; ou mesmo a solitária peregrinação das Baleias Cachalote até os Açores. São vários estilos de fotografia, várias visões de diretores distintos, o que provoca uma boa mescla na interpretação de cada uma dessas grandes movimentações em massa. O primeiro capítulo, que estréia hoje, é Born to Move [Nascidos para se Mover], que o SOS Hollywood assistiu em evento de gala do canal há duas semanas, o foco está nas novas gerações e sua bruta recepção no mundo. Filhotes são presas fáceis e alimentação faz parte do ciclo, por isso algumas espécies apostam em grandes números para sobreviver e dar continuidade à coisa toda.
Grandes Migrações inova no estilo de documentários sobre a natureza, por apostar no bom-humor garantido pelas características inusitadas de algumas espécies, especialmente os Caranguejos Vermelhos, que mostram a gênese da bizarra ‘dança do siri’. É hilário! Observar é apenas o início e a contextualização das motivações de cada uma das estrelas dos episódios e seus efeitos no meio ambiente envolvem o espectador, que, além da incredulidade inicial, se vê curioso perante a complexidade envolvida nessas jornadas. Sem o tom professoral de seu texto ou de qualquer traço de engajamento político ou ecológico, o programa mostra uma realidade já afetada e transformada pela influência humana. Vale mais compreender os efeitos de uma estrada no meio de uma rota migratória com uma simples cena do que horas de blablablá em prol da causa. Mesmo por que Alec Baldwin tem voz marcante, mas não impressiona tanto. Talvez de forma proposital, para não tirar o foco das belas imagens e da imensa quantidade de informação oferecida. O mundo muda constantemente para as espécies migratórias e, a cada novo ciclo, adaptações são necessárias. É questão de vida ou morte, literalmente.
Felizmente, até agora, os instintos de sobrevivência e o impulso biológico para propagar a espécie mantém o fluxo em andamento. É inspirador.
Grandes Migrações será exibido todos os domingos, em 166 países, 34 linguagens e deve atingir 330 milhões de espectadores, incluindo o Brasil.
Achei uma série bem interessante, mas nada que fuja muito do padrão que a BBC impôs nos útlimos anos. Eu não sei como o Alec Baldwin se saiu, mas a escalação do Thiago Lacerda para a versão nacional foi desastrosa, é impossível captar um momento de naturalidade, empolgação ou surpresa na voz do sujeito. Outra coisa que me incomodou no documentário foi a intensa fragmentação da história de cada uma das espécies/jornadas. Apesar disso, todo domingo estarei na frente da tv =)
Até mais