O Homem-Aranha vai integrar o universo de filmes da Marvel! Eba! Yeah! Yuppie! Ok, essa é a notícia do dia, que saiu ontem de noite aqui nos Estados Unidos e manteve os fanboys acordados a noite toda elocubrando, brincando e, claro, brigando – afinal, o que seria desse mundo sem os malucos?. Vi até gente lutando pelo “estado de espírito do Andrew Garfield”, enquanto outros lembravam que ele está com Emma Stone, logo, não deve estar nem um pouco abalado pela notícia. Mas isso não é tão relevante (embora seja engraçado!), há um pequeno detalhe escondido em toda essa movimentação. E é uma parada ao estilo Imperador Palpatine. Sim, envolve a Disney!

Primeiro, os fatos. Depois de anos como propriedade da Sony, o Homem-Aranha agora passa a integrar os filmes produzidos pela Marvel Studios, com Kevin Feige no comando e, olha só!, Amy Pascal (a mesma executiva que foi destruída, e, depois, afastada do cargo por conta do Sony Hack por conta de e-mails racistas, preconceituosos e desrespeitosos). Amy vai lançar sua própria produtora em março, com um contrato de exclusividade de 4 anos com a Sony. O anúncio é surpreendente, pois dá poder a uma executiva aparentemente descreditada. Aparentemente, pois tudo isso é politicagem. Ela só perdeu o cargo, não a influência e poder de decisão. É Hollywood, dinheiro manda. Ponto. A Marvel Studios vai produzir, enquanto a Sony vai financiar, distribuir, manter os direitos e, de acordo com o anúncio oficial, o controle criativo sobre os filmes. Nenhuma menção foi feita a Avi Arad e Matt Tolmach, afinal, fica claro que a produtora de Amy toma o lugar da Arad Productions e deve ser a interface com a Marvel, com quem Amy tem ótimas relações. Ela também esteve envolvida no lançamento da franquia no cinema, há 13 anos. O primeiro filme solo, sob o comando da Marvel, sai em 28 de julho de 2017. O personagem também deve aparecer em outros filmes dos demais heróis da Marvel.

Isto posto, voltemos ao querido Imperador. Ele adorava atuar nas sombras e manipular tudo, não é mesmo? Bem, eis que Bob Iger, CEO da The Walt Disney Company, vê os frutos de um plano de quase 10 anos dar resultado. Enquanto todo mundo fala da dança dos direitos da Marvel, quem é de quem, qual filme presta ou não, e outros assuntos relacionados ao conteúdo desse universo, a Disney preparava a ascensão do Império. Os últimos anos trouxeram dois anúncios gigantescos. O primeiro foi o acordo com a Marvel Studios, que reuniu a maioria dos principais heróis dos quadrinhos sob uma mesma companhia e já criou um dos filmes mais vistos da história – Os Vingadores; depois, veio o anúncio da aquisição da LucasFilm e suas propriedades, com o início imediato da produção e desenvolvimento de vários filmes de Star Wars, uma das franquias mais rentáveis do cinema mundial. Aliados aos filmes produzidos pela própria Disney, o cenário fica claro, não? O estúdio do Burbank saiu da fase negra que a afetou quando dependia apenas de suas animações questionáveis, enquanto companhias com a DreamWorks cresciam no mercado, e se reestabeleceu como uma das mais lucrativas na cidade.

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Afinal, Star Wars – O Despertar da Força tem tudo para ser o filme mais visto de 2015 e ninguém duvida do sucesso estrondoso de A Era de Ultron. Sem contar as apostas malucas que dão certo, como Guardões da Galáxia. Sabe quais os 5 filmes mais rentáveis de propriedades dos quadrinhos da Marvel? Os Vingadores, Homem de Ferro 3 (ambos da Era Disney) e, pasme, os três Homens-Aranha de Sam Raimi (com a Sony). Sozinhos, esses 5 filmes arrecadaram quase US$ 2.2 bilhões (com B mesmo!) SÓ nos Estados Unidos. Do outro lado, Star Wars faturou o MESMO valor ao longo de 30 e poucos anos.

O plano de Iger funcionou claro, afinal, sem concorrência forte – afinal, a Warner Bros. tem uma péssima mão para filmes de herói e acerta 1 a cada 5; a Paramount não leva uma franquia com efetividade há um tempão, a Fox só acerta com X-Men e, agora, a Sony precisou repensar sua maior propriedade – estamos diante de um monopólio não-declarado, mas real e efetivo. A The Walt Disney Company continua sendo a única empresa do ramo a poder carregar, de forma sólida e contínua, um espectador desde os primeiros meses de vida até a vida adulta de forma ininterrupta, com direito a lavagem cerebral na adolescência, e maravilhamento nos anos seguintes. Se é assustador ou lindo, fica a critério do cliente, mas é um fato. A não ser que você pense como Neil Gaiman e tenha aquela visão bem peculiar sobre tudo isso.

Tudo isso reforça uma das máximas do mundo corporativo: viver de um produto (ou estilo, no caso da Disney) só, não funciona. Claro, eles exageram com essa visão corporativa que deixaria Philip K. Dick tão feliz quanto assustado, afinal, ele acertou a previsão, mas nunca imaginou que uma empresa infantil seria um exemplo disso (Brian Aldiss até brincou um pouco com isso num conto que integrou aquela coletânea lançada durante o hype de A.I. – Inteligência Artificial (não lembro se o nome era Galaxy Zee ou The Pause Button). O futuro é repleto de fortunas para o senhor Mickey Mouse e seus amigos e também para o conceito de coisas nerds.

Por que? Oras, se a Disney tem tudo isso sob seu guarda-chuva de conteúdo e licenciamento, teremos gerações e gerações acostumadas à abundância de produtos nerds. Quem viveu nos anos 80 e 90 já acha hoje um exagero, mas, pense bem, pode ser muito maior. O que, para a gente, foi a exceção, vai ser a norma para a molecada, pelo menos aqui nos Estados Unidos, onde o consumo da cultura pop já vem de berço e nunca fica muito distante por hábito. A relação só vai se fortalecer, um público consumidor tão cativo quanto gigantesco vai se formar e o ciclo de consumo será perpetuado. Pelo menos as propriedades estão sendo bem tratadas, afinal, podemos criticar a Marvel de qualquer coisa, exceto como dar um show. Isso eles sabem muito bem. E quem gosta mais de um bom show do que um “pai corporativo” feliz?

Everything is happy, Everything is cool when you are part of a team! Ou não! 😉

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Fábio M. Barreto

Fábio M. Barreto novelista de ficção, roteirista e diretor de cinema e TV. Atuou como criador de conteúdo multimídia, mentor literário e é escritor premiado e com vários bestsellers na Amazon. Criador do podcast "Gente Que Escreve" e da plataforma EscrevaSuaHistoria.net.
Atualmente, vive em Brasília com a família.

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4 Comments

  1. A Marvel está acertando onde a Warner/DC erra. Mas e quando ela errar? E quando tiver um fracasso de bilheteria?

    1. Quando ela errar, errou. A Pixar era a mesma coisa. Aí errou, corrigiu, errou de novo, e continua firme e forte.

      1. Sei não, Bá. Eu acho que quando a Marvel errar, a queda vai ser feia, pq a cada filme a expectativa aumenta.

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