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Foram dez dias de festival. Mais de 230 filmes. Disputa por ingressos dos favoritos. Mostras internacionais, exibições públicas ao ar livre e profissionais de cinema respirando o mesmo clima durante todo o tempo. Tudo isso dentro de uma minicidade cinematográfica organizada no coração da Westwood Village. Assim aconteceu o Los Angeles Film Festival, um evento anual patrocinado pelo jornal Los Angeles Times, com o objetivo de reforçar a prolífica produção independente de uma Hollywood que o Brasil pouco conhece.

Embora os filmes dos grandes estúdios movimentem a maior parte da renda em Los Angeles, o cinema independente é responsável pelo trabalho de base ao treinar muitos dos profissionais e ao fornecer emprego e renda para empresas menores, como locadores de equipamentos, estúdios de mixagem e tantos outros segmentos que vivem em função do cinema. Com verba menor – mas ainda assim grande para os padrões brasileiros – e apoio de uma cidade que precisa de filmes para sobreviver, a produção independente é ininterrupta. Para este ano, por exemplo, 5000 filmes foram inscritos. 75% foram produzidos em Los Angeles.

O LAFF, porém, não é uma mera mostra de cinema para agradar a seus realizadores. Além da realização ficar por conta do maior jornal da cidade, o patrocinador-mor é a rede de lojas Target, que distribuiu US$ 600 mil em prêmios, sem contar o prêmio individual de US$ 50 mil para dois diretores revelados durante o evento. E o resultado, claro, aparece rapidamente. Além da pesada cobertura da imprensa local, ver centenas de pessoas passeando com a sacola do patrocinador durante o dia e, depois, se espalharem pela cidade causa um efeito interessante.

No cerne de tudo isso está a exibição de filmes, claro. A programação que ocupou 14 complexos de exibição em Westwood Village e proximidades. Com calendário concorrido e cheio durante seus 10 dias de realização, era comum ver gente correndo de um cinema para o outro para não perder os horários e realizar verdadeiras maratonas ao assistir a 4 ou até a 5 filmes por dia. A primeira sessão ocorria às 13 horas e a última começava às 22 horas Isso sem contar os bate-papos e eventos matinais.

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Diretores como Guillermo Del Toro, Jason e Ivan Reitman e Chris Carter participaram de debates e painéis em salas lotadas. Às vezes, era mais difícil conseguir um ingresso para um desses encontros do que para os principais filmes do dia. É óbvio, cambistas na área. Pouquíssimos, mas existiam e cobravam até US$ 200 para um evento envolvendo os diretores. Entre os atores, destaque para Antonio Bandeiras que teve uma noite só para ele e David Duchovny, que, ao lado de Carter, lotou uma gigantesca sala de exibição para falar sobre Arquivo X: Eu Quero Acreditar.

O LAFF começou com a première de gala de O Procurado, com participação de James McAvoy e outros membros do elenco. Angelina Jolie não deu as caras. Coisas de mãe. O filme foi ovacionado e bem recebido pelo público. As bilheterias responderam da mesma forma poucos dias depois, em sua estréia pública. E encerrou suas atividades com outro blockbuster: Hellboy II – The Golden Army, com todo o elenco e o diretor Guillermo Del Toro, que, aliás, entregou os grandes prêmios na cerimônia de encerramento, que homenageou Don Cheadle.

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O último dia, porém, contou também com o Family Day, repleto de atrações e, claro, filmes para as crianças. Depois de brincar com as Lhamas e animais da fazendinha, a garotada rumou em peso para a pré-estréia mundial de Jornada do Centro da Terra 3D, o derradeiro filme da New Line Cinema, que se despede e está efetivamente assimilada à Warner Bros. Brendan Fraser apresentou o filme e causou grande impacto na platéia.

Tudo isso é coisa de americano? Pode parecer, mas o Brasil já teve esse tipo de estrutura com a “Cinelândia”, porém, em prol da modernidade, tudo foi posto abaixo e hoje vivemos de multiplexes. Em Los Angeles, existe verdadeiro fascínio pelas salas grandiosas para mais de mil pessoas, com telas gigantescas e, evidente, todas com lugar marcado. Quase um sonho.

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  • Os Destaques
  • Prince of Broadway (EUA, 2008, 102min).
    Direção: Sean Baker
    Filmado em HD, Prince of Broadway levou o prêmio de Melhor Diretor da Competição Narrativa ao contar o drama de um imigrante de Gana que vive em Nova Iorque vendendo itens de grifes pela metade do preço, até que sua ex-namorada aparece com seu filho, de 2 anos de idade. Em questão de minutos, o negociador Lucky se torna um pai solteiro, que não pode deixar de trabalhar, mas, mesmo assim, resolve cuidar do garoto. O futuro dos dois está em jogo e o que se vê é a dura realidade sem roteiro extremo ou elementos ficcionais. Ele tem seus momentos engraçados, mas é um drama por vocação. Emocionante, afetivo e cativante. Uma história simples, mas poderosa.

    The Wackness (EUA, 2007, 96min)
    Direção/Roteiro: Jonathan Levine
    O prêmio de Melhor Filme não foi para nenhum dos independentes em busca de espaço, mas sim para The Wackness, com distribuição da Sony Pictures Classic (estreou por aqui na semana passada). Ben Kingsley e Josh Peck lideram o elenco deste filme despretensioso e, talvez, por isso surpreendente, cuja história é centrada num adolescente recém-formado do ginásio (Peck) e seu terapeuta liberal (Kingsley). O filme já levou o prêmio do público no festival de Sundance e, mais uma vez, mostra seu apelo com a audiência. Bons diálogos, interessante construção das relações entre seus personagens e um típico filme de “autor”, no caso, o novato Jonathan Levine. Também dão o ar da graça no longa-metragem Famke Janssen e Mary-Kate Olsen. Curioso: outro filme passado em NY.

    Loot (EUA, 2008, 88min)
    Diretor/Roteiro: Darius Marder
    Quem levou o prêmio de Melhor Documentário foi Loot, de Darius Marder. O projeto segue os passos do caçador de tesouros Lance Larson, que está disposto a encontrar pequenas fortunas escondidas por dois veteranos norte-americanos da Segunda Guerra Mundial. Mais que um reality-movie, Loot vai mergulhando nos dramas e medos desses soldados que, pouco a pouco, precisam enfrentar cada um de seus fantasmas para tentar descobrir onde estão os frutos de seus saques às cidades conquistadas pelo Exército. É um exemplo de documentário que vai além de meramente relatar um acontecimento, ele permite o efeito dramático com uma ótima edição e grande tranqüilidade na escolha dos trechos utilizados. Tudo tem função, conta-se a história e se descobre mais um tenebroso lado de uma guerra que acabou há 60 anos, mas ainda afeta o mundo.

    Hello, Stranger (Coréia do Sul, 2007, 113min)
    Direção: Kim Dong-hyun
    Outro drama envolvendo imigrantes, desta vez, na Coréia do Sul. O espectador mais desavisado é apresentado a um mundo quase alienígena dos subúrbios de Seul, onde um dissidente norte-coreano acabou de ser realocado para iniciar nova vida. Boas doses de comédia e uma interessante discussão sobre diferenças de comunicação pontuam o filme.

    Let the Right One In (Suécia, 2007, 114min)
    Direção: Tomas Alfredson
    Uma das mostras paralelas do LAFF foi a Dark Wave, que trouxe filmes de terror para o festival. O melhor deles, sem dúvida, é Let the Right One In, um filme sueco que mistura dramas da adolescência – como abandono familiar e violência escolar – com elementos mainstream dos filmes de vampiro. O personagem principal é um garotinho que descobre uma nova vizinha, mas ser seu amigo não é uma boa idéia, já que ela é uma das “criaturas da noite”. Nada batido, porém, no filme de Tomas Alfredson, que usa um tratamento visual interessante e não aposta nos clichês do gênero para assustar e criar seus momentos de tensão. Bela mistura entre fantasia, falsas esperanças e o realismo bruto da vida real.

    Fábio M. Barreto

    Fábio M. Barreto novelista de ficção, roteirista e diretor de cinema e TV. Atuou como criador de conteúdo multimídia, mentor literário e é escritor premiado e com vários bestsellers na Amazon. Criador do podcast "Gente Que Escreve" e da plataforma EscrevaSuaHistoria.net.
    Atualmente, vive em Brasília com a família.

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    3 Comments

    1. Sou a primeira da fila, Barretão, mas está todo mundo lendo suas peripécias aí em Hollywood. Mas não vá me aparecer numa tomada de cena de algum filme nas ruas de LA, hein? Sua mulher não iria gostar muito, não é? Voc~e está mostrando um mundo novo pro pessoal do Brasil. Boa!

    2. Só Los Angeles para apresentar um evento dessas proporções. E sua cobertura é sólida e inteligente. Estou empolgado com seu blog. Continue assim! Parabéns pelo trabalho.

    3. FABIO, mais de 230 filmes para serem assistidos em apenas 10 dias?!?!
      Só o meu xará para transformar essa árdua tarefa em diversão e olha que adoro filmes, mas assim já é demais…
      hehehe
      Falando sério, valeu pelo profissionalismo de sempre ao compartilhar com seus leitores as novidades de Hollywood.
      Saudações,

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