Nova animação da DreamWorks promete muita ação, mas nem mesmo uma técnica 3D impecável salva o roteiro de ser fraco e focado num drama existencial feminino.

Alienígenas invadem a Terra. Nossas armas são inúteis. E a única saída é convocar os Monstros, armazenados na Área 51, para nos defender. Junte tudo e se prepare para uma grande comédia de ficção científica, com formidável elenco de vozes, incluindo Hugh Laurie, Seth Rogen e Kiefer Sutherland. Some à fórmula uma das melhores execuções de criação em 3D, que beira o brilhantismo. Porém, nada disso ganha força necessária perante um roteiro que sofreu inúmeras mudanças ao longo de seu desenvolvimento no qual Monstros e Alienígenas são apenas acessórios para um conto sobre autodescoberta e amadurecimento pessoal.

A culpa recai sobre a personagem feminina, Susan, com voz original da baixinha Reese Witherspoon, que se transforma numa mulher gigantesca depois de ser atingida por um meteoro. Seis roteiristas trabalharam no projeto e dois diretores comandaram o barco que nasceu como comédia inspirada na produção de ficção científica dos anos 50 e 60. Em entrevista coletiva em Los Angeles, Reese deu a dica sobre o que aconteceu: “os roteiristas sentiram que a história de Susan seria mais interessante e próxima ao público, então foram mudando gradativamente”, disse ao SOS Hollywood. O conceito é bom, afinal, ter um personagem capaz de se conectar com a platéia ajuda, mas com um público-alvo composto por crianças indiferentes às dúvidas pré-nupciais, por exemplo, ou à jornada de amadurecimento da personagem.

Nada contra filmes femininos, diga-se de passagem, mas a Paramount/Dreamworks vendeu outro peixe ao longo dos anos. Não seria nada mal fazer um segundo filme focado em Susan, mas há mulher de mais e monstro de menos em Monstros vs. Alienígenas.

Os Monstros estão no filme e muito bem representados. Dr. Barata mescla (Hugh Laurie) é deliciosamente alucinado, com certo sarcasmo, genialidade e rompantes baratísticos hilários. Referência direta ao filme A Mosca. Missing Link (Will Arnet) é o “monstro da lagoa negra”, homem-anfíbio encontrado congelado na Antártica. O melhor deles, porém, é BOB (Seth Rogen), uma gosma acéfala ambulante que participa das melhores piadas e cenas do filme. Do lado dos Alienígenas, entretanto, só um representante: Galaxhar (Rainn Wilson), uma espécie de Lula Lelé megalomaíaca. Mas não são alienígenas, no plural? O roteiro resolve essa questão, mas demora a justificar seu título. Entre os humanos, o personagem mais marcante, sem dúvida, é o general W.R. Monger (Kiefer Sutherland), um militar linha dura extremamente devoto de seus protegidos, no caso, os Monstros.

O filme tem seus bons momentos, além dos exibidos nos ótimos trailers. Referências a clássicos como King Kong, Godzilla, Dr. Fantástico, O Dia em que a Terra Parou, Contatos Imediatos de Terceiro Grau e tantos outros podem ser vistas em todos os cantos, o que transforma Monstros VS. Alienígenas numa espécie de introdução ao gênero para as novas gerações, especialmente as crianças, que são o verdadeiro público-alvo desse longa-metragem. Ouvir um Seth Rogen comportado e fazendo rir com inocência é algo bem-vindo, especialmente com a certeza de que seu personagem vai ser o “queridinho” do público. Os diretores e produtores, porém, não acham que os filmes precisem de um “comic-relief” aos moldes de Rhino, de Bolt, por exemplo. Isso já é supervalorização do trabalho, afinal, na maior parte do filme, BOB só faz rir e nada mais.

Há muita ação, mas falta mais do confronto sugerido pelo título. A seqüência dentro da nave alienígena é hilária e muito bem executada, entretanto, acontece rapidamente. Muito tempo é gasto na construção do drama de Susan, que acredita ser feliz da vida ao se casar com um âncora de TV e, de repente, vê sua vida transformada numa versão classe média e menos mambembe de 15 Metros de Mulher. Drama demais, num filme vendido como algo divertido e cheio de movimentação. Infelizmente, a DreamWorks deixa a peteca cair depois do ótimo Kung Fu Panda.

Monstros Vs. Alienígenas é irrepreensível em termos de animação 3D, sem dúvida, uma das melhores já feitas, mas escorrega no roteiro ao tentar agradar a todos. Crianças vão rir, adultos encontraram diversas referências e, embora BOB tenha grandes chances de conquistar muitos fãs – especialmente quando os brinquedos do McLanche Feliz chegarem – o filme entrará para a história como grande realização técnica que poderia ter sido inesquecível.

Fábio M. Barreto

Fábio M. Barreto novelista de ficção, roteirista e diretor de cinema e TV. Atuou como criador de conteúdo multimídia, mentor literário e é escritor premiado e com vários bestsellers na Amazon. Criador do podcast "Gente Que Escreve" e da plataforma EscrevaSuaHistoria.net.
Atualmente, vive em Brasília com a família.

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1 Comment

  1. parabéns, crítica formidável e muito precisa, a pouco fiz um post em meu blog que discut a causa, e essa critica mostra exatamente à pedra que tombou monstros versus alienígenas.

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