No segundo texto do especial (leia a Parte I aqui), vou falar diretamente com quem tem aspirações a participar das próximas edições do Rio2C assim como de outros eventos que dão oportunidades para quem escreve vender seu peixe e tentar ir parar no cinema, na Netflix, na Amazon Prime ou seja lá qual streaming te receba de braços abertos! =D
Inscrição
Começando pelo óbvio: inscreva-se. Escolha bem o projeto e faça a inscrição. É gratuito. E, como diz a máxima, o não você já tem. Os espaços são limitados, mas nunca sabemos qual será o universo disponível aos jurados.
Sua ideia pode ser exatamente aquela que a comissão procura!
Categorias
Em 2023, as categorias foram Jovem Adulto e Ficção. Sim, ambas amplas, mas excluindo documentários, biografias e todo o campo da não-ficção. A mescla foi forte entre ficções Jovem Adulto, com uma boa presença de histórias LGTBQIA+, sem deixar de lado ficções pé no chão como dramas passados em ambientes bastante brasileiros como prisões e fora das grandes capitais. Sinceramente, a presença de “Filhos do Fim do Mundo” foi até um ponto destoante, afinal, ele era o único blockbuster ali. Talvez tenha sido o grande diferencial para a escolha dele. E fica uma lição aí, buscar encontrar um aspecto que mais ninguém pode, ou tem coragem, de oferecer. Lembre-se: tem que ser comercial.
Por mais que o Rio2C fale em oportunidades para livros buscarem editoras, a vocação do evento é o audiovisual. Logo, ver uma lista de escolhidos mais focada nas possibilidades de adaptação, em oposição a histórias originais para editoras, não deveria ser surpresa. Mesmo assim, entre editoras presentes, o foco da busca eram produtos do gênero Jovem Adulto.
Era possível definir a subcategoria no ato da inscrição, mesmo sem isso influenciar em nada o restante do processo.
Ficha de Inscrição
Aqui começa a primeira tarefa que vai diferenciar a sua proposta das demais. Além de vários campos selecionáveis para compreensão do projeto, a ficha de inscrição vai pedir os seguintes materiais:
Logline
É uma linha simples que define a sua obra e gere curiosidade. Recomendo ter essa frase pronta para todo e qualquer projeto que você conclua. Invariavelmente, alguém vai pedir. A logline de “O Céu de Lili”, outro projeto inspirado em um uma obra minha que estou vendendo por aí, é essa:
“A Humanidade perdeu a guerra. Quem sobreviveu perdeu o direito de olhar para cima.”
Sinopse
O texto precisa ser curto (nada de teses ou mega defesas) e causar impacto. Nada de tentar ser intelectual ou complexo. Uma boa sinopse vende o seu produto e coloca ideias na cabeça de quem lê. Ela explica qual o tema, qual o ritmo, qual o gênero e dá uma ideia de qual tipo de filme/série o espectador vai ver. Pense na sinopse de venda como uma ferramenta de negociação, ela tem a função de levantar a primeira sobrancelha. A pessoa vai ler esse texto antes de deixar você abrir a boca.
Importante: essa sinopse é diferente daquela sinopse que vai na quarta-capa do livro, que você coloca na descrição do produto na Amazon KDP ou no seu site. Você está falando com alguém que vai INVESTIR na sua ideia, não comprar um exemplar. A relação é diferente.
Minha sinopse foi essa (ou algo parecido, não salvei todas as versões):
É meia-noite da véspera de Natal quando a Humanidade é surpreendida pela morte de todas as crianças e filhotes com menos de um ano de idade. À espera do primeiro filho, um Repórter obstinado parte numa perigosa missão investigativa para tentar encontrar uma cura. Enquanto isso, a esposa, uma cientista renomada, luta com suas armas para impedir que o filho morra como os demais. Ambos precisam descobrir até onde conseguem ir para lutar pelo verdadeiro significado da família. Várias catástrofes se misturam com tensão psicológica num thriller com perigo por todos os lados e uma situação cada vez mais trágica.
Elementos de diversidade e inclusão:
Em 2023, obrigatoriamente, o Rio2C determinou a obrigatoriedade da presença de personagens diversos, seja por deficiências, seja por identidade de gênero ou raça.
Aqui precisei entrar forte com as alterações que a história já havia sofrido e ir um pouco além, afinal, um dos problemas da obra original é justamente a falta de diversidade. Aproveitei a oportunidade para dar o formato final a essa questão. A lista ficou assim:
- 2 personagens negros: Coronel e Major
- 1 personagem LGBTQIA+: Influenciadora
- 1 personagem cadeirante: Radialista
- 1 personagem autista: Primeira-Dama
As linhas de descrição foram perdidas, pois não salvei. Mas, se posso confiar na memória, era apenas uma linha como “Coronel: apoiador do Repórter, veterano do Exército, no papel do sábio da história.”
Aliás, a presença da autista no elenco foi reflexo direto do nascimento e consequente diagnóstico do Erik, nosso filho do meio. O tema se tornou presente e muito importante em nossas vidas. Nada mais esperado que, daqui para a frente, eu aborte o tema em meus trabalhos.
Motivação para desenvolver sua obra (até 5 linhas):
Esse momento é bem pessoal e pode mostrar as circunstâncias do nascimento da ideia, de onde a vontade de escrever veio ou, no meu caso, da perguntinha que me encafifou. Obviamente dei uma carteirada nessa resposta e quem não daria? Se você estiver na mesma situação, vai pra cima!
Respondi assim:
Denzel Washington me perguntou: o que seria o fim do mundo para você? A resposta foi fácil – perder a minha filha. A obra nasceu como um curta feito em Los Angeles e logo se tornou um romance com ritmo acelerado, riscos altíssimos para as personagens e um protagonista carismático tão amado quanto odiado pelos leitores.
Relevância da temática em até 05 linhas – como você destacaria o seu pitch para um público de 1 milhão de pessoas?
No Brasil, muita gente não sabe separar orgulho de arrogância. Digo sem pensar duas vezes: orgulhe-se da sua criação. Coloque o melhor dela em campo e diga o que vai acontecer se tudo der certo. Você tem bola de cristal? O produtor também não. Se você convencer a outra pessoa do potencial já é meio caminho andado. E a chave aqui é DIFERENCIAL. Como sua obra se destaca no mercado nacional?
Segue minha resposta:
A obra nasceu para ser grande. Foi minha professora de roteiro quem disse: esse filme é grande demais para ser seu primeiro projeto, escreva o romance. Ela conversa com um gênero poderoso e rentável em Hollywood, mas praticamente inexistente no Brasil. É nossa grande chance de colocar o gênero no mapa do cinema nacional.
Motivação para transformar sua obra em longa-metragem ou série (até 5 linhas): (350 caracteres)
Esse quesito apresenta outra oportunidade de venda. Se na sinopse você falou mais da trama, aqui você vai falar sobre as razões, sobre a sua visão, sobre como convencer os outros a assistirem à adaptação.
Sejamos sinceros, ninguém gosta de filme/série chato. Alguns conseguem ser feitos e a maioria das pessoas simplesmente esquece, não sem antes detonar para todos os amigos. Queremos conquistar novos espectadores, certo?
Minha defesa foi curtinha, eu queria plantar uma pergunta, então fiz exatamente isso:
Por que essa ideia deve virar um filme?
Porque passamos o tempo todo pensando em como sobreviveríamos, o que faríamos diferente dos personagens e se eles estão certos ou não.
Como sempre nos vemos no papel principal, nos lembramos daquelas histórias mais humanas, mais reais, mais marcantes. Filhos do Fim do Mundo é brasileiro e faz tudo isso.
Como você sobreviveria?
Descreva em até 05 linhas como você enxerga a estratégia de marketing da sua obra no cinema/mercado editorial e o público-alvo: (350 caracteres)
Primeira lição sobre público-alvo: NUNCA responda com “todos”.
Estimativa demográfica precisa ser a mais refinada possível. Dificilmente um filme que agrade homens adultos de aproximadamente 40 anos vai agradar mulheres de 60+ e vice-versa. Claro, há filmes “high concept” que atingem um grande público? Sim. Os filmes da Pixar são praticamente todos high concept. Só aposte nesse segmento se tiver MUITA CERTEZA. Dicas de que seu filme é high concept: temas familiares ou universais, pouca violência e/ou sexo, e situações muito relacionáveis, ou seja, um pai de família lutando para encontrar alguma estabilidade (Os Incríveis) é bem diferente de dois detentos tentando fugir da prisão mais segura do mundo (Escape Plan).
E você precisa descrever a situação, separadamente, tanto para audiovisual quanto para editorial, caso esteja procurando uma editora para a história.
Filme
Público-alvo: adultos, 25-55.
Marketing: Campanha propondo que o fim do mundo pode estar próximo e perguntando ao espectador: você está pronto para o fim?
Mockmentário orgânico sobre indícios de morte de insetos e outras espécies, apontando humanos como próximos. Tema inédito.
Editorial
Público-alvo: adultos, 20-60.
Marketing: Focar no ineditismo da obra no mercado nacional, criar debates nas redes sociais sobre os efeitos da derrubada/controle das redes e de como o mundo de hoje funcionaria se, amanhã, a internet fosse desabilitada.
Exemplifique obras literárias ou histórias em quadrinhos (ou filmes, caso esse seja seu objetivo) aos quais sua obra é similar:
O famoso “meu filme é uma mistura de Tubarão com Um Tira no Jardim de Infância”. Esse aspecto é importante, pois dá uma perspectiva do que você imagina como referência. Agora, um alerta, liste APENAS filmes com boa bilheteria. Não pega bem dizer que seu filme é parecido com algo que falhou como Moebius, por exemplo. Para checar as bilheterias no Brasil, vá até o FilmeB.
Minhas respostas para filmes: Guerra Mundial Z, Não Olhe Para Cima.
Minhas respostas para livros: Silo, A Estrada.
Exemplifique projetos audiovisuais brasileiros aos quais sua obra é similar:
Essa foi um belo diferencial para meu projeto, afinal, não existe NENHUM FILME no mercado nacional minimamente próximo do escopo e tema de “Filhos do Fim do Mundo”. Isso dá uma força danada a qualquer proposta.
Mini-biografia do autor:
Mostre seu lado mais produtivo, seus prêmios, seus grandes momentos. Não seja modesto. Lembre-se, orgulho é diferente de arrogância. O pessoal precisa sentir firmeza e enxergar que ali está um profissional competente no ato de contar histórias, não alguém que está apenas se aventurando. Ter noção de como produzir boas histórias não tem nada a ver com idade ou tempo de estrada, mas sim com preparo e visão. Não tenha medo de mostrar suas habilidades.
A minha ficou mais ou menos assim (precisei editar dentro do formulário e não salvei, sorry):
Fábio M. Barreto é jornalista por formação e storyteller por vocação. Criado nas redações de São Paulo, especializou-se em ficção científica e fantasia e dedicou 10 anos da carreira à cobertura internacional em Los Angeles, fornecendo entrevistas e reportagens para mais de 20 veículos brasileiros incluindo Veja, Época, O Globo. Lá, estudou cinema e começou a contar histórias. Entrou na literatura em 2013 com o thriller “Filhos do Fim do Mundo”, vencedor do Prêmio Argos de Melhor Romance. Criou a plataforma EscrevaSuaHistoria.net e o podcast literário Gente que Escreve. Em ambas empreitadas, orienta pessoas interessadas em escrever histórias literárias e cinematográficas.
Pronto, aí está o passo-a-passo para se inscrever no Pitching Editorial do Rio2C.
Espero ter ajudado!
Dúvidas? Pergunte aí nos comentários ou mande um e-mail.