I Wanna Do Bad Things with you… canção da abertura da série
Tive a oportunidade de cobrir diversos eventos vampíricos em 2008. O mais divertido, sem dúvida nenhuma, foi Lost Boys – A Tribo, que cobrir com exclusividade durante a Comic-Con e pude conhecer o Corey Feldman e aquele vozeirão cavernoso dele. Filme médio e acertadamente lançado direto para DVD. Mas foi durante a mesma convenção que tive primeiro contato com True Blood, difícil foi vencer os 2363 fãs vestidos de vampiro que se acotovelavam na entrada da sala de exibição. Tinha fila, mas os seres da noite acham que podem entrar voando no salão e se empoleirarem de cabeça pra baixo.
Enfim, felizmente, consegui acompanhar True Blood desde a estréia e em HD, quando a série foi exibida pela HBO US nas noites de domingo. Alan Ball sempre fez sucesso aqui em casa, muito mais com a Lu do que comigo, mas estava empolgado com a série desde a Comic-Con. O primeiro episódio foi tão bem feito e empolgante que sabia: domingão era dia, ou melhor, noite de vampiro aqui em casa! Claro que eu já estava meio irritado com o fato de serem apenas 12 episódios, mas o feeling jornalístico sempre dizia que outra temporada viria. Ainda bem que acertei.
Pois bem, acho que deixando de lado os pormenores dos personagens, o que mais atraiu em True Blood foram as diferenças daquele universo. Aliás, eu e o Otavio Almeida discutimos um pouco disso na Sci-Fi News de janeiro num artigo sobre o “hype vampírico” do momento. Sangue artificial? Tráfico de sangue de vampiro? E, claro, a perspectiva de outros seres por aí colocaram mais que pimenta naquela mistura.
Acho que estava mais do que na hora de mudar o conceito de humanização dos vampiros. Os fãs de Crepúsculo que me desculpem, mas o contexto ali ficou vazio demais se comparado a essa realidade de True Blood. Pelo menos no filme, que não recomendo para alguém que goste do assunto. É, no máximo, bom para matar a curiosidade e ver o que agrada a garotada hoje. E só. Ver um romancezinho barato ou toda a lenga lenga sobre família de Lost Boys – A Tribo não tem graça perto do que essa série conseguiu. True Blood é maduro até a última gota.
Isso fica claro desde a abertura alucinada criada por Alan Ball. Som country, elementos religiosos da Louisiana, aquele clima cru da região, gente com os hormônios ouriçados ao extremo e sua dose de nojeira servem como cartão de visita para um mundo plausível e sem muita enrolação. Coitado do arquétipo do Conde Drácula. Não há mais espaço para o visual de Bella Lugosi nos vampiros modernos. No máximo, o personagem pode ser misterioso e sedutor apenas com o olhar, como Eric Northman – o Homem do Norte, tradução que reflete as origens nórdicas do personagem e do ator que o interpreta, Alexander Skarsgård, filho de Stelan Skarsgård (Gênio Indomável). Alexander, aliás, é o maior destaque do elenco de outra grande produção da HBO: Generation Kill .
Confesso que, antes da estréia, o elemento político havia despertado a atenção. Muitos especiais da HBO focavam na “faceta política” da série, mas esse elemento se tornou secundário e até desapareceu ao longo da temporada. Acredito que boa parte dos drops exibidos pela HBO US devam aparecer o DVD. O material conta com entrevistas com ‘vampiros reais’, escritores, atores e gente envolvida no crescimento desse gênero – ou subgênero do Horror, se preferir – literário, cinematográfico e, para alguns, de vida.
Um dos aspectos mais trabalhados pelo roteiro é mesmo o preconceito. Os vampiros desejam vida pacífica (embora facção de sua raça sejam contrários à idéia) e boa parte dos humanos não gostam muito da idéia. Ao situar a série numa região com forte histórico em relação a escravos e direitos civis – o Sul dos Estados Unidos -, a autora pode trabalhar diversos extremos dessas relações sem muito esforço ou criar um cenário compatível com tanto ódio, preconceito e rancor. Tudo já estava pronto e embasado em raízes históricas. O melhor de tudo é saber que dificilmente haverá um final feliz no fim do túnel.
Para quem ainda não sabe, basicamente, True Blood mostra um mundo no qual os vampiros “saíram do caixão” e vivem entre nós. Tudo por culpa da criação sangue sintético – coisa de japonês, claro! – que dá nome à série. Daí para frente é drama social da melhor qualidade, afinal, como conviver pacificamente se os vampiros podem, se quiserem, saírem matando gente a torto e à direita?
A série foca suas lentes numa cidadezinha interiorana na Louisiana, com seu sotaque cajun (mistura de francês, inglês, dialeto de escravos e, aposto e ganho, algum idioma alienígena!), onde mora a família Stackhouse. Sookie é a personagem principal, vivida por Anna Paquin, que, mesmo escorregando um pouco no sotaque, faturou o Globo de Ouro de Melhor Atriz. Foi merecido e, felizmente, mostra que ela não é apenas mais uma “estrela infantil” tentando voltar a ficar famosa. O Oscar de Melhor Atriz por O Piano ganha mais validade ainda, já que se tratava de uma atriz por vocação.
Sookie é uma garçonete, mas não para por aí. Se em seu mundo existem vampiros, bem, ela pode ser um pouco diferente. A moça consegue ler mentes e todo mundo acha que ela é meio pinel por conta disso. Bom, cidade pequena é essa zona. Todo mundo conhece todo mundo e a fofoca corre solta. Ela tem um irmão – burro feito uma porta -, Jason, o conquistador da cidade. É impressionante a quantidade de vezes que Jason aparece fazendo sexo na série. Pelas contas da central de estatísticas do SOS Hollywood, ele seduziu pelo menos 4 personagens e apareceu transando, no mínimo, uma vez em cada episódio. O sujeito é uma máquina!
Acima do Bem e do Mal está a vovó Stackhouse – grande performance da veterana Lois Smith – uma alma pura no meio de toda a doideira que está prestes a se abater sob a cidade de Bon Temps. Os personagens de True Blood são bem definidos, de opinião forte e cheios de mistério. Aparentemente, ninguém consegue ter mais segredos que Bill Compton (Stephen Moyer), o vampiro bonitão que chega à cidade e, que dúvida, se envolve com Sookie, a bobinha da paróquia.
Essa história de amor impossível acaba guiando a série em meio a assassinatos – o grande mistério da temporada é saber quem anda matando mulheres ligadas a vampiros –, luta de religiosos contra a existência dos vampiros e, claro, os outros elementos sobrenaturais que povoam o universo criado por Charlaine Harris, a autora da série Southern Vampire.
Acima de tudo, True Blood propõe uma análise da verdadeira índole humana. Como reagimos em situações extremas? Até onde iríamos por desejo ou vício? Pode o Bem existir em algo encarado como Mal por tantos séculos? E, acima de tudo, conseguirá o amor superar tantas barreiras sociais e políticas? Chances para transformar essas perguntas em episódios banais e óbvios aconteceram aos montes na primeira temporada, mas, felizmente, esse nunca foi o caminho tomado pelo time de Alan Ball.
Uma coisa é certa, os primeiros episódios servem para te deixar viciado, mas os rumos que a história toma até o final da temporada são absurdamente alucinantes. Não ache que vai ficar nessa ladainha de Bill sempre aparecer para salvar Sookie. Esse é um ponto fraco e problemático no início da série, que pode dar a impressão de que a estrutura funcionará como Arquivo-X com o “monstro da semana”. O problema foi notado e rapidamente solucionado. Ainda bem! De qualquer forma, há um elemento muito galante, mas pouco desenvolvido no comecinho: Sam Merlotte (Sam Trammell), o dono do bar onde Sookie trabalha.
Se você estava interessado na série e esperou até agora para conferir na TV, com a qualidade que ela merece, e não alimentou a maldita indústria do download ilegal: Meus parabéns, fez bem. Agora é só ligar a TV e curtir. Ah, publicamos um guia de episódios completo na Sci-Fi News de janeiro. Confira, mas cuidado com os spoilers. É uma perdição e, assim como a música tema diz, I wanna to bad things with you…
Texto: Fábio M. Barreto
True Blood e Fringe foram as séries do ano passado que me conquistaram. Difícil compará-las, já que são gêneros bem diferentes. Mas foi bom demais ter duas séries diferentes e de qualidade, para diversificar.
O mundo e a mitologia que True Blood está criando são sensacionais, nos prendem mesmo. Mas a série não angaria facilmente qualquer um não. Conheço várias pessoas que tiveram que assistir vários episódios até se envolverem. E outras que em momento algum conseguiram digeri-la. Provavelmente parte disso se deve ao tantinho de trash que a série tem.
Ao assistir True Blood, dá até pena dos pobres vampiros sem dentes pontudos e que brilham na luz de Crepúsculo. 😛
Achei fantástico. Adorei a “renovada” que deram pro personagem do vampiro, que já não condizia mais com a realidade. Digo, “realidade”: esses seres, vampiros, lobisomens, frankensteins, todos eles foram criados com um propósito, que já não se encaixa mais no século XXI – quem tem terrorista e gripe suína não se assusta mais com gente que voa, certo?
Crepúsculo não faz isso. Crepúsculo “harrypotteriza” os vampiros, e ainda de uma maneira bem malfeita (que fique claro que ninguém fala mal de Harry Potter na minha frente). Funciona bem pra adolescente, e ainda só pra alguns adolescentes. Já True Blood fala de uma coisa que a gente entende bem: preconceito.
E, com certeza, se dependesse só dessa abertura, já me ganhava. Nem precisava ter aquele sotaque!
True Blood tem uma qualidade estética maravilhosa e um roteiro com um toque de sadismo e humor negro que casaram perfeitamente. Anna Paquim mostra talento, mas não pra ganhar um Globo de Ouro! Pode ser porque eu sou fã de Lost, mas Evangeline Lily e Elisabeth Mitchell são bem melhores. O problema é que é difícil falar assim sendo fã…
Mas tudo na série é muito bom! Que elenco é esse?! É um conjunto de ótimos atores! Todos! É um conjunto de acertos… Uma das melhores coisas da TV hoje em dia.
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