Ver filmes é só o começo do curso e a temporada de provas veio contudo, mas quem disse que parei de ver coisas legais? Hoje tem uma seleção de curtas para você!

por Fábio M. Barreto, de Los Angeles

Assistir aos filmes é a apenas o começo, como bem diz o RapaduraCast. A regrinha vale para a faculdade, afinal de contas, é um barato passar as tardes enfurnado numa sala de cinema vendo e revendo clássicos e debatendo suas técnicas e estilos. A diversão tinha data para acabar desde o começo, afinal, lá no começo, a professora Michele Gendelman [que é um clone da Catherine Ohara] havia definido todas as datas. Perdeu a prova ou tirou nota baixa, já era. Não foi para a aula, já era. Participação contava bastante, mas 90% nunca abriu a boca. De qualquer forma, a primeira prova chegou apavorando o pessoal e a segunda, e final, já está quase aí, mas vamos por partes, como diria Jack.

Embora discorde de provas como método de avaliação, independente do país ou contexto, nunca tive medo ou fiquei (muito) estressado por conta delas. Eram 30 questões sobre 200 páginas, uns 21 filmes e detalhes de gêneros, estilos e enquadramentos e movimentos de câmera. Bastante material para duas semanas e meia de aula. Mas era sossegado, afinal, tirando datas e alguns detalhes técnicos, a maioria das informações são coisas que a gente conhece por prática, mas nunca deu nome a elas. Tem uma coisa chamada swish pan, por exemplo (veja outros termos aqui), que Orson Wells usa na cena do café da manhã em Cidadão Kane. É uma técnica. Você já viu milhares de vezes, tanto que pouca gente usa, mas até aí associar tantos nomes a tantas coisas num período tão curto de tempo pode ser um pouco trabalhoso. Fato é, estava empolgadão com a prova. Fazia tempo, rs! Bem, acabou não sendo tão difícil, pois, como falei no SOSCollege #4, o pessoal pediu tanto que a professora fez o tal do study guide, e foi só alinhar uma boa pesquisa e estudo com as informações para gabaritar. Bem, quase. Sabia que ia errar os benditos aspect ratio e não deu outra, é tanto número desde os filmes de Thomas Edison que a cabeça do véio se cafundiu e pimba, errei o tamanho do filme em 1931, que era 1.37 para 1. Também vacilei por ter discordado da professora no conceito principal de comédias românticas. Considerei amor como a resposta, ela queria “o processo de ficar ou se manter apaixonado”. Faz sentido, mas achei um tanto subjetivo demais. No fim das contas, tudo bem. 104 de 114 possíveis.

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E o que isso quer dizer, em termos de nota? Pois é, fui perguntar e a Catherine Ohara… oops, professora tirou um sarro de leve “se 100% é tudo, logo, 104 é acima do máximo, certo”. Haha pra ela. A conta foi assim: as 30 perguntas valiam 100%, enquanto 5 perguntas extras dariam os outros 14% de “extra credit”. Ou seja, os errinhos no teste foram cobertos pelos acertos nas adicionais e fiquei na faixa máxima de nota. Uma psicopata falastrona da sala, que estudou na UCLA e trabalha na área há anos (ainda não sei o que ela está fazendo ali, rs) gabaritou pesado com 114%. Fiquei feliz e, inevitavelmente, lembrei da reação da minha amiga assessora de imprensa da Paramount em LA quando contei para ela: você devia estar dando essa aula! Eu até sei umas coisas, mas estou ali para aprender mais, especialmente na parte técnica. E esse resultado mostra que aprendi um bocadinho a mais. Missão cumprida. Bem, pelo menos até agora, pois o fim da matéria se aproxima.

E com ele a temida prova final e o apavorante term paper, uma mini-monografia de 3 páginas fim de curso. Quer dizer, temida e apavorante para o resto do povo. Convenhamos, escrever 3 páginas com espaço duplo é fichinha para o meu fluxo de produção, mesmo em inglês. Os outros estrangeiros do curso entraram em parafuso, pois, além disso, vão ter que escrever uma redação de duas páginas na prova, sem consulta e à mão! Nego pirou. A vontade de dar aquela gargalhava malévola foi gigantesca, mas nem todo mundo sabe escrever, assim como nem todo mundo entende de números ou sabe dirigir. Cada um na sua. A prova vai ser bem pesada com 60 questões e a redação, mas claro, acabou de pintar um mini-study guide, por insistência da galera que tirou nota baixa no primeiro exame. Mas a professora resolveu ser maldosa e deu apenas as páginas e assuntos específicos que serão avaliados, o que reduziu o espectro de leitura, mas não ficou de mão beijada como da primeira vez. Vai ser um teste e tanto.

Quanto à redação, ela vai ser uma avaliação da teoria do autor. Precisamos escolher um diretor, diferente da dupla eleita para o term paper”, e discutir seu estilo em diversos filmes. Estava dividido entre George Lucas (vimos Freiheit, curtinha dele) e Alfred Hitchcock, mas ontem revi Vincent, “o guardanapo da Pixar de Tim Burton”, e vou encarar as maluquices dele. A vantagem é que não preciso rever nada e seus principais filmes estão gravados na memória. Vai ser bacana.

Ah sim, o trabalho. Tenho que comparar O Monstro do Ártico (The Thing from Another World), o original de 1951, não o remake do John Carpenter (que até gosto mais, sinceramente), com Aliens – O Resgate. Comecei a escrever em formato de artigo e, quando vi, já tinha 8 páginas. Aí o gênio resolveu ler as orientações da professora. Dancei. Sabia que eram 3 páginas, mas fui despejando idéias. O problema era seguir as normas de trabalhos acadêmicos – que sempre foram um porre, mesmo no Brasil – e fazer tudo com espaço duplo. Basicamente, esse texto é quase do tamanho do trabalho inteiro. É pouco. Ok, não quero comparar com minha tese de pós-graduação, que tinha 30 e tantas páginas, mas só 3 é pouco. Fiquei com a impressão de ter nivelado por baixo, mas enfim.

Comecei a escrever no formato certo ontem de noite, depois de rever Alien – O Oitavo Passageiro, Aliens e O Monstro do Ártico. Acabei agora de madrugada. Ficou com 3 páginas e meia, não coube no limite. Paciência. Não vou cortar conteúdo bacana, mas isso não deve ser problema. Escolhi Ficção Científica para ficar à vontade com os termos na hora de escrever em inglês e funcionou perfeitamente. Assim que entregar, publico aqui para vocês. 🙂 Como não sou bobo, pedi para uma amiga professora e pesquisadora em Connecticut dar uma revisada técnica, afinal, quero deixar o trabalho redondinho e tirar nota boa, claaaaro!

Bom, por hoje é só… ou não, tem mais coisa aí embaixo! :p

Sugestões de curtas:

Vi a maioria desses curtas em aula e achei alguns na internet para criar uma lista interessante. Espero que gostem! E aproveitem para opinar aí nos comentários!

Vincent, de Tim Burton, 1982, narrado por Vincent Price.

Freheit, de George Lucas, 1966

Xenogenesis, primeiro filme de James Cameron, em 1978

The Big Shave, de Martin Scorsese, 1967

My Best Friend’s Birthday, incompleto de Quentin Tarantino, 1987

The Piano, de Aidan Gibbons, 2006 (animação mediana, mas sempre me emociona)

The Black Hole, de Phil Sansom e Olly Williams, 2008 (inglês divertidíssimo e surreal)

Qual seu favorito? Deixe sua opinião!!!! 😀

Fábio M. Barreto

Fábio M. Barreto novelista de ficção, roteirista e diretor de cinema e TV. Atuou como criador de conteúdo multimídia, mentor literário e é escritor premiado e com vários bestsellers na Amazon. Criador do podcast "Gente Que Escreve" e da plataforma EscrevaSuaHistoria.net.
Atualmente, vive em Brasília com a família.

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9 Comments

  1. Cara me deu um frio na barriga! Eu adoro estudar e estou pensando seriamente encarar uma outra faculdade.. (Sem parecer arrogante, eu tenho 2 já)…Mas quando me lembro de provas, monografia e trabalho acadêmico com todas as normas da ABNT me dá uma preguiça dos diabos!! LOL!!

    Mas que bom que vc conseguiu se sair bem!! Não seria diferente pra um nerd! rsrs

    Abraços e boa sorte… Quanto aos curtas, eu não vi ainda, mas verei.. Basta eu ter um tempo…

  2. Eita….que emoção, hein? Sério, ver sua empolgação e empenho com o curso me dão até um gás novo p/ encarar esse semestre na faculdade! kkkkk Sinceramente, sou a favor de provas como UM dos métodos de avaliação, mas não o único. Eu me sinto mais à vontade escrevendo ensaios, apresentações de antologias e artigos… mas, como você, as provas não me incomodam muito. rsrs
    Senti o mesmo que você logo no inicio da faculdade. Várias análises culturais e literárias ou mesmo cinematográficas que eu me dispunha a fazer antes do ingresso na Universidade, ganharam cara e nome diferentes. Mas eu senti um aperfeiçoamento gigantesco da minha capacidade de interpretação, análise e teorização. Tudo isso contribuiu para que eu redigisse uma maior quantidade de textos com uma base de argumentos mais estruturada. Enfim…. só felicidade (ou não)! rsrs

    Ah…sobre curtas, o último que vi foi o belíssimo “Claire de Lune”, que foi cortado do filme “Fantasia”, mas apareceu no “Música, Maestro!”. Lindo….

    Aqui o link, pra quem quiser ver:

    http://www.youtube.com/watch?v=FcpamvLB2JU

    Enfim, é isso! Boa sorte, Fábio! 😉

  3. Muitas pessoas citam esta frase “mas vamos por partes, como diria Jack”, mas eu a conheço de uma forma diferente. Geralmente o povo diz ” vamos por partes, como diria Chico Picadinho!”

    1. LOL

      Conheço uma variação, mas nunca usei por puro medo do mico: Tudo a seu tempo, Chico Bento! :p

  4. Indescritivel poder acompanhar suas aulas, especialmente para quem tbm estudou cinema e é apaixonado por isso.
    Agradeço em nome de muitos que estão curtindo demais essa jornada e aprendendo um monte não só sobre cinema, mas sobre uma cultura diferente da nossa.
    =)
    Obrigado e boas provas!

  5. Cara,

    Esse seus textos sobre a faculdade de cinema, são um sopro de luz, nos fim da minha tarde.

    Principalmente, por que ando a beira dos 40 anos, de saco cheio do trabalho, da vida, etc.

  6. Estou adorando suas aventuras na faculdade.

    Andei pensando esses dias em retomar a teologia desta vez oficialmente e cheguei a cogitar o Mackenzie ou a Nossa Senhora da Assunção mas e perspectiva de provas, trabalhos e especialmente horários me desanimaram.

    Fico muito feliz por você e torço pelo seu sucesso na faculdade e na vida.

    Saudades e beijos

    Sil

  7. Olá Barreto!

    Acabei de fazer uma mini-maratona lendo seus 5 primeiros posts do #soscollege.

    E estou aqui feliz. Feliz por você! Desde o inicio, até terminar de ler o último, pude constatar que está fazendo algo que realmente gosta. É o que transmite nas suas palavras. Parabéns por essa conquista.

    Falando um pouco de mim mesmo, como já tinha conversado pelo twitter outro dia, estou interessado em fazer uns curtas com a minha filhota. Não queria simplesmente filmar os acontecimentos, juntar um arquivo atrás do do outro no premiere e queimar um dvd. Está certo que alguns eventos serão assim, como uma apresentacao da escola, mas queria algo mais. Então resolvi estudar, pois é assim que se faz corretamente, não? Duas semanas depois de ler e ver um monte de textos, livros e filmes, cheguei à conclusão que não é fácil (que novidade, não?). Mas o estudo da arte de se fazer um filme (seja ele caseiro, curta ou qquer outro) é interessantíssimo e espetacular. Estou animado e vou continuar a estudar, como auto-didata, já que não tenho pretensões profissionais.

    Esse fim de semana consegui filmar uma ideia que tive e agora estou editando. Vai ficar legal. Bem caseiro, sem nenhuma técnica, amador… mas o valor que esse video terá daqui uns anos como recordação, é imensurável.

    Enfim, pretendo continuar a lendo seus posts do #soscollege como uma fonte de informações, que vão desde a forma como se estuda nos EUA até a referencias de filmes, curtas e livros.

    Desejo o maior sucesso para você!

    Um abraço,

    Luiz

  8. sensacional esse do Cameron, a gênese de Elen Ripley e dos ‘robôs’ gigantes pilotados q ele tanto gosta! hehe

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