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Um novo capítulo na história da ficção mundial foi escrito por JJ Abrams. A partir de maio de 2009, Star Trek deixa de ser monopólio do capitão James T. Kirk e inicia, literalmente, uma nova jornada em direção ao infinito, mas, dessa vez, com foco no vulcano mais famoso da Federação: Spock.

Jornada nas Estrelas está morta. É tempo de Star Trek, um universo cheio de vida, agilidade e ação ininterrupta. É tempo de pessoas arrojadas ao extremo, que seguem o exemplo de seu recriador, JJ Abrams. É tempo de Spock, novo e velho, apaixonado e sábio, Zachary Quinto e Leonard Nimoy. Muito mais que um nome diferente, agora globalizado, a criação de Gene Roddenberry, segue seu caminho independente e pode levar as aventuras da Enterprise a um lugar onde nunca nenhum filme da série jamais chegou: o topo das bilheterias, com status de blockbuster indispensável para diversas gerações.

JJ Abrams vê o futuro como algo brilhante e extraordinário. Em todos os sentidos. Seja no talento nato dos jovens James Kirk e Spock, ou no maravilhamento soturno causado pela destruição de um planeta, nada acontece em pequenas proporções. Fruto de um cinema autoral, que, especialmente por causa da crise criativa de Hollywood, beneficia os blockbusters, Star Trek aponta como candidato máximo no quesito originalidade na onda da “reimaginação” – termo criado por John Lasseter, manda-chuva criativo da Disney – das grandes franquias.

A mitologia de Jornada nas Estrelas fale em audácia, mas JJ Abrams levou esse conceito ao extremo ao reinventar tudo, com a ajuda do ótimo roteiro de Bob Orci e Alex Kurtzman, e garantir o ódio dos fãs mais radicais. É um novo momento, o filme é feito para novos públicos, logo, apresenta nova dinâmica. Nunca se viu um longa-metragem da série com tanta ação, velocidade e adrenalina, sem, com isso, prejudicar o drama e a construção de personagens. A comparação pode parecer provocativa, mas Bob Orci concorda e assina embaixo: há muito de Guerra nas Estrelas (os originais), em Star Trek (o novo). “Incluímos essa sensação nas batalhas para não ficar com aquela impressão de submarinos manobrando antes de atirar”, comentou o roteirista com exclusividade ao SOS Hollywood, em Los Angeles, um dia depois de a imprensa ter sido apresentada ao filme. E não poderiam ter feito melhor escolha. Ficou bom para caramba!

Conceitualmente, Jornada sempre apresentou uma fantástica leitura social, mas faltava o vínculo com a massa, o consumidor de cinema, aquele sujeito que quer se divertir e torcer para um próximo filme pelo entretenimento, não, necessariamente, pelo fanatismo. Entretanto, essa inevitável popularização não acontece às custas da qualidade ou banalização da mitologia. O filme demonstra grande respeito pela série clássica, faz inúmeras referências e é capaz de surpreender, mesmo quem acha que sabe tudo sobre o assunto. Surpresa, aliás, é o termo mais aplicável nesse momento, pois é como o público ficará a partir de 8 de maio. Muito surpreso.

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O caminho escolhido por Abrams e sua turma é alvo de críticas, afinal ele mexe sem medo na história conhecida e nos apresenta um formidável exemplo de Ficção Alternativa [uma nova história, dentro da história; recomendo ler A Mão Que Cria, de Octávio Aragão, ótimo romance nesse estilo]. Mas suas escolhas se justificam e funcionam em cena, com grandes doses de tensão, drama e momentos inesquecíveis para fãs do gênero. Fica difícil escolher entre se emocionar com a viagem inicial da USS Enterprise, sob o comando do capitão Pike, ou o momento em que Kirk e McCoy se conhecem. É uma obra completa e auto-suficiente, que foi feita por uma equipe criativa e destemida. Se George Lucas tivesse confiado a realização da nova trilogia de Guerra nas Estrelas a profissionais desse tipo, os rumos da vida de Anakin Skywalker teriam sido muito melhores, especialmente sob o ponto de vista qualitativo.

E é justamente onde George Lucas falhou com seu artificial Episódio I, que J.J. Abrams dá um show em termos de realismo fantástico, seja ao construir uma nova Enterprise, ou simular uma explosão de proporções gigantescas no espaço. Star Trek é palpável, seus alienígenas não foram gerados por computador, a ponte de comando da nave causa arrepios e, acima de tudo, as relações ali presentes são reais, tem profundidade e, em poucas cenas, convence o espectador de que vale a pena se importar com o destino da tripulação.

Convencer o público leigo parece tarefa fácil se comparada à necessidade de emocionar o fã desse universo. E deu certo. Pequenos detalhes mostram a preocupação da produção em respeitar os limites tecnológicos e comportamentais da Frota Estelar [as armas merecem atenção especial, assim como o sistema de teletransporte], mas nada supera a presença de Leonard Nimoy. William Shatner esperneou e tentou forçar a barra para entrar, mas, felizmente, não conseguiu. Spock trouxe uma dignidade fabulosa ao novo filme, amparada por uma interpretação impecável de Nimoy. Ele é a conexão entre esses dois mundos, um pacífico e espaçado de Roddenberry, outro resoluto e ágil de Abrams.

Nimoy conseguiu executar essa ligação com primor, sem parecer deslocado. Seu personagem conquistou suas cenas com tanta dignidade e respeito que, merecidamente, o filme parece parar para ouvir suas palavras ou admirar sua presença de cena. Curioso notar que Zachary Quinto deixou seu Sylar de lado para fazer frente à experiência de Nimoy, sem competição, mas contribuindo de forma belíssima para reforçar o momento de Spock. Emoções humanas e lógica vulcana transformam-no no personagem mais carismático e interessante do grupo, especialmente por conta de algumas novidades criadas pelo roteiro. Ver Spock envolvido num romance é das mais gratas surpresas.

Não foi surpresa, porém, a ótima interação entre a nova tripulação. “Karl Urban deixaria DeKelley com lágrimas nos olhos”, decretou Leonard Nimoy, enquanto dividia uma mesa de entrevistas com Zoë Saldana (Uhura), Zachary Quinto (Spock), Karl Urban (McCoy), Anton Yelchin (Chekov) e John Cho (Sulu). “Morri de inveja de certas coisas que Zachary pode fazer, mas nunca duvidei que estava diante de um grupo de atores que honrou tudo que eu e Bill [William Shatner] ajudamos a construir, seja sorrindo, seja lutando até o último suspiro”. O bom-humor é forte traço de Star Trek, que forja uma família no calor da batalha. Essa família se protege, quebrando regras e arriscando tudo para não deixar ninguém para trás. Assim é a Enterprise criada por Roddenberry, algo que nem mesmo Abrams ousou mudar.

Star Trek é ousado, cheio de vida e emoção. Um filme vibrante e imperdível. Resistir… é inútil.

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<em><font size=”-2″>Fábio M. Barreto</font></em>

Fábio M. Barreto

Fábio M. Barreto novelista de ficção, roteirista e diretor de cinema e TV. Atuou como criador de conteúdo multimídia, mentor literário e é escritor premiado e com vários bestsellers na Amazon. Criador do podcast "Gente Que Escreve" e da plataforma EscrevaSuaHistoria.net.
Atualmente, vive em Brasília com a família.

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