Boardwalk Empire estréia amanhã na HBO, com direção de Martin Scorsese, que falou ao SOS Hollywood sobre sua estréia no mundo dos seriados! A série é imperdível; um clássico instantâneo e incontestável.
por Fábio M. Barreto, de Los Angeles
Na semana em que brasileiros debatem os efeitos de Tropa de Elite 2, um outro aspecto do crime chega à televisão por assinatura com a abertura de uma janela no tempo e na cultura norte-americana para se mostrar a gênese dos gângsteres em Boardwalk Empire, nova série da HBO, que estréia amanhã na grade brasileira com direito a episódio duplo. Tecnicamente impecável, elenco cinematográfico e roteiro de Terrence Winter – criador de Família Soprano – são os maiores trunfos desse programa que, acima de tudo, tem direção e produção de Martin Scorsese. Boardwalk Empire é mais uma prova de que mesmo momentos negros e tristes podem inspirar grandes peças de criatividade. Especialmente num ano em que a TV luta para encontrar substitutos para grandes séries, esse programa nasce como clássico e não precisa ir além de sua abertura para tal.
Veja o Trailer:
A evolução da criminalidade nos Estados Unidos e no Brasil trilharam caminhos muito distintos por razões óbvias – segregação, diferentes graus de militarização e dinheiro disponível, etc – mas a maior delas acontece por conta da curiosa relação que o americano tem com as “lendas do crime”. Billy The Kid, Jesse James, John Dillinger e até mesmo Al Capone sempre tiveram uma aura especial, causavam medo, respeito e atiçavam o imaginário por suas grandes realizações. Eram caçados mas, especialmente Dillinger e Capone, nunca deixavam o interesse público. Praticamente celebridades do Lado Negro da Força numa época em que admirar tais pessoas ainda era possível; quando o politicamente correto ainda não existia. Mas de onde vem tudo isso? Bem, esses criminosos construíam sua fama com arrojo e estilo. Eram homens bem vestidos, Dillinger fazia de tudo para conquistar as pessoas, enquanto Capone as recompensava muito bem.
Construíram sua fama em momentos conturbados política e economicamente entre as duas Grandes Guerras, quando Hollywood ainda pensava o que fazer com a fama. Corrupção e crime já existiam, mas quando a Lei Seca entrou em vigor nos Estados Unidos em 1920, a prática foi praticamente institucionalizada para manter os antros de jogatina, bordéis e redes de negócios dos até então criminosos do colarinho branco em funcionamento. Tudo funcionava à base de bebida. Martin Scorsese concorda: “As boas intenções da Lei Seca permitiu que criminosos como Capone, Lucky Luciano e Torrio existissem e ficassem mais poderosas”, diz o diretor ao SOS Hollywood e à revista Sci-Fi News. “As gangues de Gangues de Nova Iorque não eram organizadas, elas eram políticas”.
E é aí que Terrence Winter, criador de Família Soprano, resolveu mergulhar em sua nova criação. Boardwalk Empire recria aquele momento. Mostra para o mundo quando e como os gângsteres nasceram. Como deixaram de ser criminosos submissos a seus chefes e passaram a sonhar com fortuna e fama.
O cenário é o calçadão [o boardwalk do título] de Atlantic City, uma espécie de cassino a céu aberto que recebia famílias durante o dia e se transforma num antro de perversão, jogatina e bebida durante a noite. Nucky Thompson é o rei local, mas régia mesmo é a interpretação de Steve Buscemi que, merecidamente, tem seu primeiro papel principal e o realiza com brilhantismo. “Não quero dizer que esteja cansado dos meus personagens anteriores, mas considero esse papel como minha chance; é a minha hora de brilhar um pouco (risos)”, brinca Buscemi, em entrevista exclusiva ao SOS Hollywood, no histórico hotel Beverly Hilton. “Nucky tem bom coração, mas seus negócios vêm em primeiro lugar; matar e manipular não são necessariamente características de uma boa pessoa, só que era a realidade na qual ele viveu”. O personagem foi inspirado num chefão verídico de Atlantic City [até hoje uma das cidades mais corruptas e degeneradas dos Estados Unidos], mas, propositalmente, Winter modificou sua trajetória para garantir o interesse do espectador.
Numa dessas mudanças surgiu a personagem de Kelly MacDonald, bela, mas tímida. Lembro da primeira vez que vi Kelly, no filme Assassinato em Gosford Park, como uma das empregadas da mansão; recentemente, fiquei impressionado pelo show dela e de Sam Rockwell em Choke. “Margareth nasceu de uma simples passagem da biografia de Nucky, na qual era mencionado que, certa vez, ele ajudou uma mulher grávida, que era mulher de um ajudante de banqueiro”, conta a atriz escocesa, que não esconde o forte sotaque de Glasgow, onde ainda vive com a família. “Podemos inventar muito a partir daí, pois toda a construção da personagem é original; gosto disso, pois, diferente de uma peça, na qual preciso repetir a mesma coisa N vezes, posso ir mudando e amadurecendo algumas idéias aos poucos. Gostei dessa mudança no modo de trabalho”.
Criatividade não falta, mas isso só é possível por, novamente, Winter ter encontrado um elenco forte o suficiente para segurar a bucha. Boardwalk Empire é uma série intensa e incômoda em alguns momentos, pela simples lembrança da exploração desnuda e a desvalorização da vida; algo muito mais latente naquela época. Steve Buscemi, Kelly MacDonald, Michael Pitt e Michael Shannon brilham. Simples assim. E, especialmente no piloto, dirigido por Martin Scorsese [que também produziu 12 episódios], a sensação é de se estar diante de um filme que o espectador não conseguiu ver no cinema. Martin Scorsese explica: “Tudo que vem acontecendo ao longo da última década é muito interessante e era nosso objetivo no meio da década de 60, quando os filmes eram feitos para a TV primeiro; aspirávamos por essa liberdade para criar novos mundos e aplicá-los em narrativas longas, mas não aconteceu nos anos 70, nos 80 e nem nos 90”, explica Scorsese, que foi recrutado por Mark Wahlberg, produtor executivo da série, durante as filmagens de Os Infiltrados. “Finalmente encontrei uma oportunidade para desenvolver personagens a longo prazo, com um número de episódios similar a qualquer outra série, mas sempre de forma inteligente, pensada e brilhante. Por isso aceitei esse trabalho.”
E o público agradece, Martin. Pode apostar.
A cobertura do sosTV vai seguir a exibição brasileira da série, então, a partir da semana que vem, começam as críticas individuais.
[ad#scorsese-01]
Muito bacana a matéria! A série é excelente em todos os aspectos, principalmente por Steve Buscemi e Michael Pitt, sempre gostei das atuações do Steve, porém realmente faltava algo pra ele mostrar todo o seu potencial e essa é a chance, agora só consigo me recordar de “Ghost World” que ele é coadjuvante e um outro filme onde também tem essa dupla “Buscemi-Pitt” cujo qual esqueci o nome. O piloto é sensacional e só vai melhorando, o que eu gostei bastante também é por ter um “quê” de cinema noir. Não assisti “Sopranos” ainda mas já tá na lista. Até.
Oi Fabio!! Que bom, enfim ouvi falar sobre essa serie (que tenho certeza que será excelente) só via a propaganda na tv e achava estranho pois não li nada sobre a serie nos blogs ou sites.
Mas… Fabio você falou algo sobre Tropa de Elite 2, falou?!
Gostaria de ver a críitica. Pode ser??!!!
Abç e o blog continua ótimo.
Oi Carol! Bom te ver por aqui!
Blog? Onde? 😉
Nao tenho como falar de Tropa de Elite 2 sem baixar o filme e como sou contra essa pratica, vou ficar devendo.
Bjs e valeu,
Fabio
Desculpe!! Não sei o que me deu, pra dizer blog, doideira…
Mas você deve estar ocupado! Sem tempo p ir ao cinema ou não está no Brasil né?! Uma pena que ainda não pode ver (Eu também não vi, mas estou ouvindo bons comentários e gostaria de ler a sua críitica). Mesmo assim, Obrigada! Abç e Tchau!
Oi Carol,
Não é questão de tempo não. É por conta do filme não estar em cartaz aqui em LA. Quando entrar, eu tento. 🙂
bjs,
Fabio
Pra quem não está acompanhando ainda, procure! Vale a pena. O elenco é soberbo. Eu já vi os 4 primeiros episódios e estou extasiado. Só o Scorsese mesmo pra oferecer uma pequena obra-prima dessas.
Nossa, parece bem legal. Não estava sabendo sobre esta série ainda.
Vou ver se assisto. 🙂